domingo, 10 de julho de 2011

Festival de Cinema de Gramado 2011. Com licença, realidade: chegou a hora da ilusão (III)

O Cavaleiro da Bandana Escarlate


Como dizer não a um pedido de Alberta de Montecalvino? Eu não consigo.  O meu amor pela grande dama de Passo dos Ausentes é desinteressado e nada espera. Por isso, talvez, me faz tão bem (esse sentimento que o puro-egoísta não consegue entender, nem jamais conhecerá).

Pediu-me Alberta, em resumo, para fazer a cobertura do Festival de Cinema de Gramado para O Fazedor de Auroras, a exemplo do que fiz no ano passado. O concurso começa em princípios de agosto. É o mais antigo do Brasil, creio, com exibição de filmes nacionais e estrangeiros.

Amanhã partirei para a estonteante serra gaúcha, na minha vetusta Yamaha 250 (1973), que nunca até hoje negou fogo e é objeto da cobiça de colecionadores. Reservei já o quarto de hotel (a triste sina do andarilho outra vez), com vista para o Vale do Quilombo e para os contrafortes de basalto cobertos de pinheiros que tocam o céu com a ponta dos dedos verdes. Vou com antecedência para entrar no clima desde logo.

O casaco de couro, as botas, a velha manta, arrumo a breve bagagem. Levarei junto, para ler nas altas e frias madrugadas, Onetti, Cortázar, Luis da Câmara Cascudo e o Conde de Lautréamont (Isidore Ducasse). 

Quem me leu no blogue, durante o festival do ano passado, sabe do meu amor imemorial por Fellini e Kurosawa e conhece, também, o quanto arde em mim a paixão pelo cinema que se faz na Argentina nos últimos vinte anos.

Estou, enfim, de partida, fechando meu modesto solar nas cercanias da Praça Maurício Cardoso, em Porto Alegre, para mais esta viagem cinematográfica. Em alguns dias virão os primeiros textos. Aceito sugestões de pauta, ideias, opiniões e, claro, a indicação de boas safras viníferas. Aproveitarei a temporada serrana para degustar a caixa de charutos cubanos que Alberta me mandou de presente (escondido do médico, naturalmente, que me proibiu qualquer contato com o fumo e a bebida). Mas, como disse certa vez o querido poeta uruguaio Mario Benedetti, "só quando transgrido alguma ordem o futuro se torna respirável".

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Foto: J.Finatto
Textos 1 e 2 em agosto, 2010.