domingo, 27 de maio de 2012

Coração batendo na beira do lago

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto


O sol mostra a cara entre as nuvens.

A pintura impressionista revela o traço leve, ligeiro, transparente.

Caminho ao redor do lago nesse dia de outono. Um momento de raro encontro.

As cores passam um sentimento de intimidade e delicadeza.

Não existe nada melhor do que esquecer os compromissos e andar na tarde de maio.

No outono, mais do que em outras estações, sentimos a transitoriedade das coisas.

photo: j.finatto

É um ritual de despojamento e recolhimento de seivas. A natureza guarda energia para os dias difíceis que virão. Um caminho de sombras a percorrer, uma passagem de frio e névoa.

Nunca a transformação fica tão clara.

Já não somos os mesmos que antes caminhavam ao redor do lago. O reflexo na água é de alguém que mudou.

A vida não pode ser levada tão a ferro.

É o que o outono nos ensina. Não vale a pena. Um pouco de leveza numa tarde de maio é o mínimo que devemos nos conceder.

Um pouco de distanciamento dos fantasmas.

Vamos entre as árvores, o silêncio, as cores.

Somos uma imagem dentro do lago, depois se apaga.

Tudo muda, tudo passa. Só ficará desse instante o leve traço do esforçado pintor.

Uma fotografia, um quadro, um poema, um rumor de folhas no vento.

Coração batendo na beira do lago.

photo: j.finatto

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photos: imagens de São Francisco de Paula, serra do Rio Grande do Sul.