Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
F acorda às 4h da manhã, quando dorme antes da meia-noite. Quando se recolhe depois, e apenas navega no entressono, levanta da cama às cinco. Em qualquer caso, desce até a cozinha, acende o fogão a lenha, prepara o café e sobe para o escritório.
Leva na mão a xícara fumegante e o pão torrado que gosta de molhar na taça. Abre as cortinas para explorar os longes.
Faz frio nessas alturas nas madrugadas de abril. Por isso, a manta cobre-lhe os ombros. Lentamente a claridade rosada surge nas montanhas. A luz se espalha.
Isso é assim desde muito antes de F vir ao mundo, e continuará dessa maneira muito tempo depois de partir.
A paisagem vista da janela é a mesma de sempre e sofre a eternidade da beleza.
photo: j.finatto |
Este amanhecer de domingo não desaparecerá, ele pensa. Ficará na memória da câmara escura, na efêmera página de um blogue. Será visto daqui a cinco segundos ou mil anos talvez.
A transitória permanência das coisas faz de F, nesta manhã e em todas as manhãs de sua vida, calado observador do fim do mundo. E, no entanto, nada se acaba. Tudo muda.