O que não foi dito no texto de ontem, Estudos Rilkeanos, é que desde 17, 18 anos, tornei-me leitor do poeta Rilke (que foi registrado René e só muitos anos depois, por sugestão de Lou Andreas-Salomé, escritora russa, por algum tempo sua amante, depois amiga, passou a assinar-se Rainer).
Rainer Maria Rilke escolheu o Cantão do Valais, no sul da Suíça, para viver aqueles que seriam seus últimos anos. O homem que não teve uma profissão comum, que viveu sob a proteção de mecenas e mulheres, um expatriado no mundo. Um grande poeta e humanista de tempo integral, que teve uma infância difícil.
Em Sierre readquiriu a alegria da criação, mergulhou na língua francesa, indo além do ancestral alemão. Queria ser reconhecido como poeta francês, e não apenas como prosador na língua de Victor Hugo. Na época já era considerado um dos grandes poetas da língua alemã.
Viveu na casa-torre de Muzot, em Sierre, acolhido por um mecenas, entre 1921 e 1926.
O que não foi dito é que essa viagem à Suíça foi feita com a única motivação de seguir os passos do poeta nos últimos tempos em que aqui viveu, sentindo-se renascer como homem, traduzindo Paul Valéry, produzindo poemas franceses. Produção esta que, de alguma maneira, poderia apoiar um pedido de nacionalidade suíça que pretendia fazer. Não sei, afinal, se o fez e se a obteve.
Torre de Muzut, Sierre. photo: j.finatto |
O que não foi dito é que essa viagem à Suíça foi feita com a única motivação de seguir os passos do poeta nos últimos tempos em que aqui viveu, sentindo-se renascer como homem, traduzindo Paul Valéry, produzindo poemas franceses. Produção esta que, de alguma maneira, poderia apoiar um pedido de nacionalidade suíça que pretendia fazer. Não sei, afinal, se o fez e se a obteve.
(Jorge Luis Borges passou pelo constrangimento desnecessário de pedir essa nacionalidade e vê-la denegada. Como se ser suíço mudasse alguma coisa em sua gloriosa biografia de escritor, um dos mais importantes da literatura mundial.) Enfim...
O que não foi dito é que, diante do túmulo de Rilke, me emocionei.
Fiz uma oração para ele, para mim, na solidão azul das alturas álgidas dos Alpes. E senti outra vez como é bom tê-lo por perto da minha alma, ao longo da vida.
O menino pobre daqueles dias distantes veio visitar o poeta. O menino com grandes dificuldades de acesso a livros, a cultura, que continua um aprendiz, um curioso, um apaixonado pela vida e suas possibilidades.
O menino que sofreu, lutou, cresceu, tornou-se o homem de hoje, que nada mais faz além de dar-lhe a mão e sair com ele por aí...
Fiz uma oração para ele, para mim, na solidão azul das alturas álgidas dos Alpes. E senti outra vez como é bom tê-lo por perto da minha alma, ao longo da vida.
O menino pobre daqueles dias distantes veio visitar o poeta. O menino com grandes dificuldades de acesso a livros, a cultura, que continua um aprendiz, um curioso, um apaixonado pela vida e suas possibilidades.
O menino que sofreu, lutou, cresceu, tornou-se o homem de hoje, que nada mais faz além de dar-lhe a mão e sair com ele por aí...