Jorge Adelar Finatto
Chafariz, Praça do Rossio, 20.01.2014. photo. j.finatto |
O sujeito que inventou a classe econômica nos aviões pode não saber, mas o inferno, para ele, é certo. Vai direto para aquele sítio, se é que ainda não foi, pelo mal que causa aos viajantes menos afortunados, entre os quais me incluo. Não existe a menor possibilidade de que receba a benesse de uma transição para o purgatório e muito menos ao paraíso.
Como castigo passará o resto da eternidade sentado num desses torturantes assentos que criou para o sofrimento dos outros. Aqui fez, no inferno pagará.
Já o cara que criou o banheiro da classe econômica levará uma grande temporada no purgatório. Durante muitos e muitos anos terá de fazer suas necessidades naquele cubículo, encolhido, segurando-se nas paredes, equilibrando-se para não ir ao chão enquanto se alivia, ouvindo o rumor de gente apertada que aguarda a vez no corredor.
O passageiro da classe econômica viaja de teimoso. É, antes de tudo, um forte, lembrando o que disse Euclides da Cunha em Os Sertões a propósito do sertanejo.
O importante é não fazer parte da classe dos pobres de espírito deste mundo. Amar a poesia e a travessia. Estar sempre perto de Deus, que está em toda parte e é presença indispensável nas viagens de avião, por todas as razões.
Vista da janela
Do meu quarto de hotel vejo uma nesga do Tejo entre os edifícios. O melhor lugar do mundo para olhar o mundo, se calhar, é a janela do quarto de hotel. Tudo na vida é passageiro e circunstancial como no quarto de hotel. Somos seres em viagem, absurdamente transitórios. O que nos salva é o sentimento. As cidades permanecem.
Levantei de madrugada e fui até a janela. Havia um silêncio denso, uma imobilidade. Logo mais o teatro de viver recomeçaria. Somos atores improvisados, atrapalhados com o roteiro mal escrito. Andamos aos tombos. Mas andar pela vida vale a pena, sempre. É um milagre.
A cidade de Lisboa é bela, não falta o que ver e fazer. Escolhi o dia de amanhã para andar de elétrico (bonde) pelas colinas e pela Baixa.
O importante é não fazer parte da classe dos pobres de espírito deste mundo. Amar a poesia e a travessia. Estar sempre perto de Deus, que está em toda parte e é presença indispensável nas viagens de avião, por todas as razões.
Vista da janela
Tejo ao fundo, 20.01.2014. photo: j.finatto |
Do meu quarto de hotel vejo uma nesga do Tejo entre os edifícios. O melhor lugar do mundo para olhar o mundo, se calhar, é a janela do quarto de hotel. Tudo na vida é passageiro e circunstancial como no quarto de hotel. Somos seres em viagem, absurdamente transitórios. O que nos salva é o sentimento. As cidades permanecem.
Levantei de madrugada e fui até a janela. Havia um silêncio denso, uma imobilidade. Logo mais o teatro de viver recomeçaria. Somos atores improvisados, atrapalhados com o roteiro mal escrito. Andamos aos tombos. Mas andar pela vida vale a pena, sempre. É um milagre.
A cidade de Lisboa é bela, não falta o que ver e fazer. Escolhi o dia de amanhã para andar de elétrico (bonde) pelas colinas e pela Baixa.
Elétrico(bonde).20.01.2014. photo: j.finatto |
A diáspora continua
O assunto da hora, em Portugal, é a fuga de cérebros do país. Sem oportunidade em sua terra, devido à crise econômica, os jovens são levados a pensar no aeroporto como única saída. É a velha e conhecida diáspora, apenas com outro recorte.
Atinge os mais novos, os que precisam "fazer a vida", construir sua história. O caminho de saída é tresloucado. Cabe aos mais velhos transmitir aos moços o conhecimento, a memória, para que possam assumir a história, o destino individual e coletivo. A isto chamamos tradição em qualquer sociedade.
A falta de perspectiva para os jovens é um sério problema em muitos países, inclusive no Brasil. A questão não se limita, portanto, a Portugal, embora aqui seja talvez mais sentida pelas características do país.
A diáspora da juventude, aqui e acolá, não é boa solução, longe disso. O futuro que o diga.
O assunto da hora, em Portugal, é a fuga de cérebros do país. Sem oportunidade em sua terra, devido à crise econômica, os jovens são levados a pensar no aeroporto como única saída. É a velha e conhecida diáspora, apenas com outro recorte.
Atinge os mais novos, os que precisam "fazer a vida", construir sua história. O caminho de saída é tresloucado. Cabe aos mais velhos transmitir aos moços o conhecimento, a memória, para que possam assumir a história, o destino individual e coletivo. A isto chamamos tradição em qualquer sociedade.
A falta de perspectiva para os jovens é um sério problema em muitos países, inclusive no Brasil. A questão não se limita, portanto, a Portugal, embora aqui seja talvez mais sentida pelas características do país.
A diáspora da juventude, aqui e acolá, não é boa solução, longe disso. O futuro que o diga.