segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Casa de Villa

Jorge Adelar Finatto

A poesia cotidiana e quase imperceptível da vida comum na música de Guinga.
 

O compositor, cantor e poeta Guinga é uma das melhores revelações da música brasileira nos últimos 20 anos. Em meio ao prato feito (e muitas vezes insosso) dos modismos e imposições da indústria do disco, é raro o aparecimento de um artista com o preparo técnico, a inspiração e a intuição deste carioca nascido no subúrbio. Músico compenetrado em seu ofício, com conhecimentos de música erudita e popular, Guinga prepara  e serve requintadas iguarias com seu violão, seus versos e sua voz.

O cd Casa de Villa foi gravado entre novembro e dezembro de 2006, no estúdio da gravadora Biscoito Fino, e lançado em 2007. É um grande prazer ouvir as sonoridades e harmonias criativas e inusitadas, que fogem muito ao fácil posto. O que se espera de um artista é que seja inventivo e nos abra novos portões no casarão da sensibilidade. Pois surpresa é o que nos reserva este disco do senhor Carlos Althier de Souza Lemos Escobar.

De tempo em tempo, ponho-me a escutar essas trilhas de  encantadora luminosidade. São caminhos que nos levam para um Brasil que existe cálido nas casas humildes, sobrados, quintais e ruas dos bairros das nossas cidades. A poesia cotidiana e quase imperceptível da vida comum está viva na obra deste grande músico.

Guinga aparece como compositor em todas as doze faixas, às vezes só, às vezes em boa companhia. A reverência a Villa-Lobos é uma promessa e um compromisso que se confirmam ao longo do disco. O refinado letrista (poeta) revela-se em versos carregados de simbolismo como: o fogo da refinaria é boitatá (Maviosa).

Mar de Maracanã, a primeira música, é a feliz  abertura disso tudo que faz deste trabalho algo original e belo que merece a nossa atenção do início ao fim.

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Foto: 1) Guinga. Autor: Adriano Scognamillo. Fonte: site oficial do artista: www.guinga.com 2) capa do disco.