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domingo, 12 de agosto de 2018

A queda no chafariz

Jorge Finatto

Teatro Nacional São Carlos (e o chafariz) photo: Wikipédia. autor: Thomas
 
ERA UMA TARDE de inverno em Lisboa. Saí do hotel Dom Pedro, no bairro Amoreiras, e me dirigi à Livraria e Editora Cotovia, no Chiado, para me inteirar dos lançamentos. Enquanto examinava a estante, um gato preto apareceu e se pôs sobre os livros em minha frente. Na verdade, uma bela gata, cujo nome era Maravilhas. Até aí maravilha.
Conversei com Maravilhas como sempre faço com gatos. Escolhi os livros e parti, agora em direção ao café A Brasileira (aquele freqüentado por Fernando Pessoa). Depois do pastel de nata e do café, rumei para a Livraria Bertrand, a mais antiga do mundo, na Rua Garrett, uma perdição.
Em seguida, caminhei até o Largo do Teatro Nacional São Carlos, um lugar bonito onde está situado o edifício no qual nasceu Fernando Pessoa. Me vali do celular (telemóvel) pra fazer algumas fotos. Havia um ruidoso grupo de italianos por ali. Até que decidi atravessar o largo e entrar no teatro.
Dei um passo em frente e... mergulhei no chafariz (a água pelas bordas). Mergulhei com capote, mochila, chapéu, manta, sacola, com tudo. Vim à tona ensopado, com tocos de cigarro enfiados nos óculos, e pedaços de papel pelo casaco.
edifício onde nasceu Fernando Pessoa (e o chafariz). Wikipédia. autor: Lijealso
 
Fiz um grande esforço pra sair do tanque. E torci pra que ninguém viesse me ajudar, queria evitar mais constrangimento. De fato, ninguém veio. Quando, enfim, consegui, uma gargalhada geral ecoou na praça. Os malditos italianos não me pouparam. Um gaiato entre eles gritou que era tentativa de suicídio.
Fiz de conta que não era comigo. Saí andando meio de banda, meio tonto, gelado, molhadíssimo, pingando, com a mão direita pisada, sem entender bem o que tinha acontecido.
No fundo não havia mistério. Óculos com lentes de fundo de garrafa, visão mais ou menos (menos, menos), pensamento caçando borboletas. Mas, afinal, quem inventou de colocar aquele chafariz ali, na minha frente? E quem teve a infeliz ideia de trazer aqueles maledettos justo naquela hora?
Livros molhados, telefone molhado, passaporte molhado, ânimo e alma molhados, roupas, tudo molhado. Isso aconteceu em fevereiro de 2018. Restou o consolo: pelo menos fiz rir a malta maledetta. 
Na frente do Teatro São Carlos, fiz meu espetáculo. Coisas da vida. Baixa o pano.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Fernando Pessoa viajando no elétrico em Lisboa

Jorge Finatto
 
pintura: Mário Linhares. foto com celular: jfinatto
 

Estive revisitando o Museu Nacional dos Coches, em Lisboa (fui lá pela primeira vez em 2002), sempre um programa interessante. São carruagens muito antigas, com exemplares a partir do século XVI em diante. Pelo que li, não existem iguais em nenhum país da Europa. Na França, por exemplo, teriam sido destruídas durante a famosíssima Revolução de 1789.
 
Certos coches são tão formosos que dá vontade de sentar neles e sair rodando pela cidade, como faziam os nobres e prelados daqueles tempos. Existem alguns construídos especialmente para crianças. Não estou a justificar a monarquia nem privilégios (ainda em voga em várias repúblicas atuais). Penso na beleza e técnica construtiva dos objetos em si, produtos da criatividade humana. Numa época em que motores estavam longe, muito longe de existir, e o transporte de tração animal era a regra, andar de coche era uma necessidade e um luxo. Mais adiante publicarei imagens que colhi no local.
 
No mesmo museu, visitei a exposição de pinturas do artista português Mário Linhares, as mesmas que ilustram o livro de Fernando Pessoa intitulado Lisboa, o que o turista deve ver. São desenhos de fino traço e sensibilidade, dignos de figurar na obra do genial poeta que Portugal deu ao mundo.
 
Dois ou três dias depois, estava no agradável Café Lisboa, no Teatro Nacional de São Carlos (situado no largo com o mesmo nome, onde nasceu, aliás, Fernando Pessoa, no quarto andar de um edifício situado no lado oposto ao teatro), quando, ao manusear o cardápio, me chamou a atenção a pintura na capa e contracapa, que ilustra este post (e a capa do blog nesta data). De quem era? Mário Linhares. A foto (feita com o celular) saiu meio sombreada.
 
Gostei tanto que enviei um e-mail ao artista solicitando autorização para publicar aqui no blog (ele gentilmente atendeu o pedido). Retrata Pessoa viajando na porta de um elétrico, observando a cidade que tanto amou/amamos. Um momento precioso. Ao Mário, cumprimentos pelo trabalho e um abraço agradecido.
 
pintura de Mário Linhares na contracapa.
em cima, poema de Fernando Pessoa