Ele precisa respirar um pouco de ar fresco, sair do calabouço. Recorda como eram bons os banhos, as caminhadas e brincadeiras que, quando criança, fazia pela orla do Guaíba.
Um dia distante se viu só diante do rio. A casa da serra tinha afundado.
O rio passou a ser seu único amigo na cidade grande.
O rio passou a ser seu único amigo na cidade grande.
Sai do calabouço na tarde de junho. Precisa respirar.Vai até a margem do Guaíba fazer um passeio sentimental, que é uma maneira de não deixar o vazio tomar conta.
A hora mais feliz do dia era pelo meio da tarde, quando mães e crianças saíam das casas e apartamentos com roupas de banho, guarda-sol, chinelo, toalha e iam para a Praia do Gasômetro, ali ao lado da alta chaminé que virou cartão-postal.
Era só sair de casa, esperar o bonde passar, atravessar a rua, e estavam na areia. Ser feliz era simples.
O Guaíba é esse espelho sobre o qual o céu se debruça todos os dias com o sol, as nuvens, o azul, e, à noite, com as estrelas.
No dia em que tudo o mais estiver perdido, haverá a memória do rio e nele um barco branco com vela branca para levar o menino a navegar nas águas claras e sem margens da infância.
A ilha ensolarada da infância.
________ Texto revisto, publicado antes em 3 de novembro, 2015.