sexta-feira, 6 de março de 2015

A história das bananas (e a tristeza do Brasil)

Jorge Adelar Finatto

photo: jfinatto
 
O que restou da esperança em um país melhor e mais justo? O que vemos, nos últimos tempos, é mensalão, petrolão, apenas para ficar entre os escândalos de corrupção mais noticiados.

Será que é isso o que a sociedade brasileira merece? O que será do futuro das nossas crianças e dos jovens diante de tamanha desestruturação ética e econômica?

Não tenho nem nunca tive partido político. Votei algumas vezes no PT, porque admirava sua generosidade e suas bandeiras, entre elas a da honestidade e a do combate às causas da pobreza e das injustiças. Muita gente boa fundou e construiu o partido, muita gente idealista, sonhadora, batalhadora. Mas o ideal daquelas pessoas ficou para trás.

Os tempos mudaram. O PT mudou para pior. É claro que não é só o partido do governo que levou o país a essa triste realidade, há também os outros partidos e todo o desvalor na maneira de fazer política.

Mas do PT se esperava, por históricas razões, um comportamento diferente, uma práxis política alternativa ao sempre foi assim.

O país cai cada dia mais fundo. Ver uma empresa como a Petrobras, orgulho do Brasil, nessa situação calamitosa é um negócio muito sério e deprimente.

O que vai sobrar da empresa estratégica criada por Getúlio Vargas e construída por várias gerações de trabalhadores? Restará alguma coisa aos brasileiros ou tudo será vendido ou simplesmente entregue para cobrir o descalabro gerado pela corrupção?

As conquistas sociais dos últimos doze anos vão desaparecendo diante dos abismos criados pela má gestão. Os efeitos nefastos sobre a economia mal começaram e já se revelam insuportáveis, atingindo principalmente os mais pobres.

Na casa em que fui criado havia algumas regras. Claras, simples, peremptórias: não matarás, não roubarás, não praticarás  falso testemunho, e outras. Os velhos e bons preceitos derivados dos Dez Mandamentos. Deles dimanavam normas de natureza caseira (casa de gente pobre e honesta): por exemplo, eu não podia apanhar bananas do aparador sem pedir autorização. Se o fizesse, o castigo era certo.

Exagero? Pode ser. Mas sou grato por isso. Nunca me passou pela cabeça apropriar-me de qualquer coisa que eu não conquistasse através do esforço, do trabalho, do sacrifício e do mérito.

Não consigo entender como é que alguns se sentem autorizados a lesar milhões e milhões de pessoas se apoderando de dinheiro que não lhes pertence, do que é patrimônio público de uma sociedade que precisa e merece ser respeitada.

Que tipo de educação receberam esses indivíduos, em que valores foram criados, quem foram seus pais? Como conseguem se olhar no espelho e para seus filhos?

Nessas horas, a gente precisa se agarrar em alguma coisa pra suportar. Eu me agarro à história das bananas.

Nos momentos de grave crise, como o presente, o que nos resta são os valores em que acreditamos.

A honestidade, a responsabilidade social e o amor ao país precisam, urgentemente, retornar às práticas do nosso dia a dia. Sob pena de não sobrarem nem as bananas no aparador.