Às vezes, quando vejo alguém sentado no velho banco da estação de trem abandonada de Passo dos Ausentes, me lembro dos que partiram dessa cidade fantasma.
Tenho vontade de sair por aí e recolhê-los, ampará-los na infinita solidão de quem perdeu seu lugar no mundo.
Algumas palmeiras cercam a pequena estação. O último trem está lá parado. Agora os cáquis - maduros - douram as manhãs de outono perto dos trilhos.
Juan Niebla, 86 anos, costuma chegar pelas quatro da tarde para tocar seu bandoneón. O músico cego assumiu o posto em 1941, aos 15 anos, por concurso público.
Desde então não faltou um dia sequer. Acomoda-se no banco de peroba-rosa e toca algumas músicas. Transita entre Chopin, Debussy, Villa-Lobos, Ravel, Piazzolla e outros.
A função de músico da estação começou com Honoratto Santos, que ocupou o cargo até a morte, em pleno trabalho, aos 80 anos. Tocava instrumentos de sopro como virtuose, especialmente o trompete.
Dizem que Honoratto era natural de Moçambique; alguns afirmam que veio menino ainda de São Tomé e Príncipe. Mas no documento de identidade consta como natural de Passo dos Ausentes.
O músico da estação tinha por ofício alegrar aqueles viajantes que chegavam à nossa cidade e amenizar a tristeza dos que partiam.
O trem acabou em 1950.
Juan Niebla diz que não importa: - Continuo tocando na estação porque quero estar aqui no dia em que o trem voltar. Um dia ele voltará a subir e descer essas serras.
- Enquanto isso, toco para os fantasmas. E para os amigos que vêm me visitar nas quintas-feiras.
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Mais sobre o músico Juan Niebla:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2011/07/conversa-na-estacao.html
Juan Niebla, 86 anos, costuma chegar pelas quatro da tarde para tocar seu bandoneón. O músico cego assumiu o posto em 1941, aos 15 anos, por concurso público.
Desde então não faltou um dia sequer. Acomoda-se no banco de peroba-rosa e toca algumas músicas. Transita entre Chopin, Debussy, Villa-Lobos, Ravel, Piazzolla e outros.
photo: j.finatto |
A função de músico da estação começou com Honoratto Santos, que ocupou o cargo até a morte, em pleno trabalho, aos 80 anos. Tocava instrumentos de sopro como virtuose, especialmente o trompete.
Dizem que Honoratto era natural de Moçambique; alguns afirmam que veio menino ainda de São Tomé e Príncipe. Mas no documento de identidade consta como natural de Passo dos Ausentes.
O músico da estação tinha por ofício alegrar aqueles viajantes que chegavam à nossa cidade e amenizar a tristeza dos que partiam.
O trem acabou em 1950.
Juan Niebla diz que não importa: - Continuo tocando na estação porque quero estar aqui no dia em que o trem voltar. Um dia ele voltará a subir e descer essas serras.
- Enquanto isso, toco para os fantasmas. E para os amigos que vêm me visitar nas quintas-feiras.
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Mais sobre o músico Juan Niebla:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2011/07/conversa-na-estacao.html