Jorge Adelar Finatto
De sol passou a chuva. Assim, sem aviso. Veio um vento, nuvens correram. Bateram uns trovões danados, luziram clarões. Caíram os primeiros pingos. Quase tudo ficou calado, submerso no som da chuva.
Estava sentado no café, numa mesinha de frente, atrás do largo vidro da janela. Lia alguma coisa e olhava a praça do outro lado da rua. Um peixe com grossas lentes no aquário.
Apareceu então aquele vestido vermelho, correndo, iluminando o coração deserto.
Soaram em mim uns acordes de Joaquín Rodrigo, sei lá, a tristeza e o sonho do Cavaleiro da Triste Figura.
Apareceu então aquele vestido vermelho, correndo, iluminando o coração deserto.
Soaram em mim uns acordes de Joaquín Rodrigo, sei lá, a tristeza e o sonho do Cavaleiro da Triste Figura.
De longe não se via a dona do vestido. Só a mancha vermelha atravessando a praça, em diagonal, entre os canteiros de rosas. Uma visão fugidia, deslizante, da direita para a esquerda, em linha descendente.
Um vestido vermelho andaluz. Naquela praça que chovia. Na tarde do coração deserto.