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terça-feira, 22 de setembro de 2015

O caçador de flores

Jorge Adelar Finatto
 
photo: jfinatto

O CAÇADOR DE FLORES, na sua floral loucura, busca reter a beleza do que, por natureza, é volúvel ao tempo e perecível.

Confesso que sou amador na arte de caçar flores, alguém que se dedica ao ofício por puro prazer estético, sem fazer disso meio de vida ou por espírito de emulação com outros caçadores.

Setembro. Lanço-me mais uma vez na delicada faina, mesmo sabendo que imagens conservam apenas a aparência do que foi belo um dia e depois deixou de ser.

Saio por aí com a Coruja, vetusta máquina fotográfica que me acompanha há séculos, e começo mais um dia de caçada. Esta é a época perfeita. Início da primavera.

E haja corola pra satisfazer a sanha insana.

O gesto é egoísta, reconheço, típico de quem dá valor excessivo ao próprio deleite, numa ânsia predatória de fazer arrepiarem-se os campos, jardins e pomares. Tal é a sina do predador.
 
O caçador satisfaz o cruento instinto ao capturar flores em fotografias, escondendo-as em álbum secreto. Todavia, o segredo não resiste à evidência de que o belo precisa ser compartilhado.

Só a exposição torna completa a alegria da caça.

Um dia as flores secam e morrem, como tudo que é vivo e respira. Alguma coisa delas permanece nas imagens. Será essa, talvez, a possível atenuante para a conduta violenta do caçador, no seu afã de ter consigo todas as flores que puder e mais algumas.

Na cidade grande quase não há flores ao ar livre. Por isso, e por não gostar de viver distante delas, quando estou longe de Passo dos Ausentes, levo comigo as photos floridas. Um jardim de emergência em meio ao deserto de concreto. Para suavizar o feio e o triste.

Nos Campos de Cima do Esquecimento, de onde escrevo essas frágeis linhas de primavera, não faltam flores, graças a Deus. Elas crescem generosamente em todo lugar e a caça é abundante.

O retrato floral é, talvez, um modo patético de aprisionar o efêmero, alguém dirá. Pode ser. Mas o que não é patético nessa vida, não é mesmo, raro leitor? 
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Texto revisto, publicado antes em 26, nov., 2013. 

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Rua do sol, nº 2015

Jorge Adelar Finatto

photo: jfinatto
 
Em 2015, eu quero uma casa acolhedora, respirando luz. Com janelas em todos os quadrantes. Uma casa bonita e sólida sobre o chão, à prova de raio, mentira e furacão. Com uma grande mesa pra receber os amigos sinceros.
 
Uma casa sem ocasião de escuridão. Cercada de árvores e flores e pássaros. E gente, sim, muita gente conversando dentro. Com barulho de louça na cozinha, panela de ferro e chaleira esquentando no fogão.

Eu quero uma casa visitada por anjos, em 2015. Habitada por gente que ri, sofre, trabalha, tenta ser feliz, erra e se perdoa.
 
Gente que gosta de partilhar o pão e a alegria. E que não foge da dor quando ela chega.
 
Uma casa pintada de amanhecer.

Que espelha o céu e as nuvens nas vidraças largas. Com uma sala grande, onde as pessoas se encontrem sempre que tiverem vontade.

Uma residência com muitos cômodos, muitas faces, muitos braços e muitos afetos (que é pra suportar os dias difíceis que vêm pela frente).
 
Em 2015, uma casa do tamanho da nossa esperança, do nosso desejo de paz e de seguir em frente rumo à aurora.
 
Aos leitores e amigos dO Fazedor de Auroras, desejo saúde, em primeiro lugar, e harmonia, amor, sonhos, reconciliações e travessias em 2015!