Jorge Adelar Finatto
Querer eu quero, e o querer é tudo. Cumpro os regulamentos do invisível.
De silêncio em silêncio, as difíceis passagens. Eu sinto no calado.
Os comedimentos. A pessoa sonhada tem certos jeitos. De não se deixar ver, nem tocar, nem sentir, nem sonhar. Os caprichos do ser amado.
As magnólias me doem no inverno de tão belas. Eu lírico. Os tormentos do amador. A musa é do tipo nem aí. Não sabe de mim.
Arlequim ao relento eu sou. Os rigores da lira me dilaceram. Vivo no austero das horas. Sinto no meu segredo.
Ela não me vê. Eu a vejo. Amador.
A musa é só o motivo. Eu sou o seu adamastor.
O que dorme no banco da praça. O que mora dentro do casaco e da manta. O do chapéu ridículo. O que fala algaravias no café. O que não suporta gritos. O que senta no cais a olhar as faluas e gaivotas.
Caminho à beira dos meus penhascos.
O que dorme no banco da praça. O que mora dentro do casaco e da manta. O do chapéu ridículo. O que fala algaravias no café. O que não suporta gritos. O que senta no cais a olhar as faluas e gaivotas.
Caminho à beira dos meus penhascos.
Ruínas são coisas que habitam no íntimo da pessoa. O que se fala e o outro não entende. Um diz aurora, a musa entende anoitecer. As palavras, tonterias.
Sentimento é o ora-veja da vida. Cultivo distância, alimento paciência. A musa e seu mistério e seu desdém.
O ser sonhado tem certos olhares. A musa vive num jardim secreto que eu mesmo inventei. A trança de linho desce pelo muro escarpado do castelo. Eu romântico.
Sentimento é o ora-veja da vida. Cultivo distância, alimento paciência. A musa e seu mistério e seu desdém.
O ser sonhado tem certos olhares. A musa vive num jardim secreto que eu mesmo inventei. A trança de linho desce pelo muro escarpado do castelo. Eu romântico.
A vida gira no esconso das horas cinzas.
Os trapos coloridos do meu coração ao vento.
Amador, amador.
Os trapos coloridos do meu coração ao vento.
Amador, amador.
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photo: Cena veneziana. Veneza, 2011.
Texto revisto, publicado em 30 de outubro, 2010.