Jorge Adelar Finatto
Os cheiros trazem de volta emoções que ficaram guardadas no sótão da memória.
Entrar no Mercado Público de Porto Alegre, à margem do Guaíba, é fazer uma viagem através do mundo de fragrâncias que nos remetem a sentimentos e tempos distantes. Da infância eu recordo de coisas ali compradas que eram empacotadas com papel e barbante. Cada uma chegava em casa com seu odor característico. Assim a erva do chimarrão, o café de Minas Gerais, o bacalhau norueguês, o cacau da Bahia, o camarão e o peixe da cidade de Rio Grande. Lembro das idas ao mercado e do contato com aquele universo de cheiros e mil produtos expostos.
Um dia desses retornei ao mercado público e fiquei por lá um pedaço da tarde. Fui atrás de especiarias espirituais que não tardaram a se revelar. Encontrei no ar toques de cravo e canela, vestígios de peixe, baunilha, vinhos, charque, hortelã, cidreira, limão, manjerona, madeira, melão e por aí vai. Um encantador mosaico olfativo habita aquelas bancas e corredores.
Caminhei naquele movimento colorido como nos tempos de menino, gente indo e vindo, os vendedores falando com os visitantes - e não apenas sobre compra e venda de mercadorias -, como sempre se fez em todos os mercados do mundo, em todas as épocas, menos, claro, na frieza e dura objetividade do shopping moderno.
Na verdade, quando entrei no mercado público, acho que fui atrás do guri que eu fui.
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Foto: site da Prefeitura Municipal de Porto Alegre:
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/mercadopublico/
Na verdade, quando entrei no mercado público, acho que fui atrás do guri que eu fui.
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Foto: site da Prefeitura Municipal de Porto Alegre:
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/mercadopublico/