Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
Vive-se. Do jeito que dá. Às vezes, até mesmo sem nenhum jeito se vive.
Porque a única coisa realmente urgente e importante é manter-se respirando. O resto é o que vem depois. E o que vem é neblinoso, imponderável, se administra. Ou não.
Convivemos com a dor, a falta de amor, de encanto, de beleza, de dinheiro, a falta eterna de sentido das coisas. Enquanto isso, vive-se.
Convivemos com a dor, a falta de amor, de encanto, de beleza, de dinheiro, a falta eterna de sentido das coisas. Enquanto isso, vive-se.
Vive-se em Porto Alegre, em Paris, em Sierre, em Lisboa, em Cacique Doble. Vive-se no silêncio de Rarogne e de Passo dos Ausentes. Vive-se à beira do Arroio Tega e nas cercanias do Castelo de Muzot.
Vive-se em toda parte. Principalmente, no fim do mundo.
Vive-se em secreto e em surdina, com raros, distantes amigos. Mas vive-se.
Vive-se apesar da corrupção que assola o Brasil e destrói tudo o que se tenta construir e até o que não se construiu como a floresta Amazônica e a Mata Atlântica.
Vive-se em toda parte. Principalmente, no fim do mundo.
Vive-se em secreto e em surdina, com raros, distantes amigos. Mas vive-se.
Vive-se apesar da corrupção que assola o Brasil e destrói tudo o que se tenta construir e até o que não se construiu como a floresta Amazônica e a Mata Atlântica.
O mais que se faz é viver, raro leitor, apesar de tudo. De janeiro a janeiro. Com sol e com chuva. Com alhos e bugalhos. Vive-se.
Calma, a realidade não merece o teu suicídio.
Vive-se na sexta, no sábado e, eventualmente, no domingo. Segunda é um enigma que nem a filosofia, nem a poesia e muito menos a astronomia conseguiram resolver. Mas o fato é que se vive.
Calma, a realidade não merece o teu suicídio.
Vive-se na sexta, no sábado e, eventualmente, no domingo. Segunda é um enigma que nem a filosofia, nem a poesia e muito menos a astronomia conseguiram resolver. Mas o fato é que se vive.
Vive-se apesar do lixo na rua, do odor nauseante de combustível na cidade, do esgoto escorrendo impune para o rio.
Vive-se em que pese o velho, malcheiroso, insuportável e persistente racismo.
Vive-se olhando os veleiros que fogem para o mar.
Vive-se em que pese o velho, malcheiroso, insuportável e persistente racismo.
Vive-se olhando os veleiros que fogem para o mar.
Vive-se diante do olhar atônito das crianças abandonadas.
Vive-se a nostalgia das casas sem eletricidade.
Vive-se a nostalgia das casas sem eletricidade.
Vive-se sem embargo dos livros não lidos. Vive-se não obstante todos os livros lidos.
Vive-se com as folhas secas do outono nos bolsos do velho casaco e na palma das mãos.
Vive-se sem nada a perder e mesmo depois de perder tudo.
Vive-se com as folhas secas do outono nos bolsos do velho casaco e na palma das mãos.
Vive-se sem nada a perder e mesmo depois de perder tudo.
Vive-se sabendo que nunca mais se encontrará aquela mulher para pedir-lhe um olhar, um abraço.
Vive-se de mal a pior, sem eira nem beira.
Vive-se apesar dos mortos nos olhando dos retratos, dos lugares vazios na mesa.
Vive-se a vida invisível dos anônimos, dos solitários, dos desmemoriados.
Vive-se de passagem, uma única vez, com o coração doendo entre as mãos. Mas vive-se.
Vive-se apesar dos mortos nos olhando dos retratos, dos lugares vazios na mesa.
Vive-se a vida invisível dos anônimos, dos solitários, dos desmemoriados.
Vive-se de passagem, uma única vez, com o coração doendo entre as mãos. Mas vive-se.