Jorge Finatto
trilha de Van Gogh no trigal. photo: jfinatto |
Se pelo menos uma vez tivesse encontrado alguém a quem pudesse abrir o coração, talvez as coisas nunca tivessem chegado a tal ponto.*
Theo Van Gogh
VAN GOGH TRILHOU este caminho algumas vezes, no campo de trigo, parte alta de Auvers-sur-Oise, perto de Paris, a última morada. A íngreme e solitária ladeira desemboca no amarelo trigal.
Sim, sempre o amarelo, esperança na vida, girassol, alegria breve em meio ao turbilhão da doença mental e da solidão que o atormentam até o fim.
Ele sobe a ladeira já sem ilusões. A morte está próxima. A única ponte de contato com a lucidez, os homens e a vida é o trabalho. Carrega o equipamento de pintura às costas e o chapéu de palha. Busca um pouco de luz, ar puro, a amiga natureza, o silêncio. Ali pinta Trigal com corvos, um dos últimos quadros, exatamente nesta encruzilhada.
lugar onde VG pintou Trigal com corvos. photo: jfinatto |
Trigal com corvos. fonte: Van Gogh Museum, Amsterdam |
O poeta das cores, das longas caminhadas solitárias, do cavalete e do chapéu de palha não sabia viver só e, no entanto, quase nunca viveu de outra maneira.
O inverno da doença, da incompreensão, da miséria e da falta de reconhecimento o levaram ao fundo do poço. Mas ali, curiosamente, havia cores, formas e emoções vivas e elas iluminaram o seu e o nosso mundo.
O inverno da doença, da incompreensão, da miséria e da falta de reconhecimento o levaram ao fundo do poço. Mas ali, curiosamente, havia cores, formas e emoções vivas e elas iluminaram o seu e o nosso mundo.
Este mês de julho, em que se recorda o 127º aniversário de morte do artista, no dia 29, haveremos de lembrá-lo aqui no blog e na exposição que farei a partir do dia 25 de julho no Café do Porto, em Porto Alegre. Intitula-se O último quarto de Van Gogh e retrata o sombrio quartinho do artista no sótão do Auberge Ravoux, algumas de suas últimas pinturas e lugares onde as realizou a poucos dias da morte.
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*Van Gogh, a vida. Steven Naifeh e Gregory White Smith. pág. 823. Tradução de Denise Bottmann. Companhia das Letras, São Paulo, 2012.