Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
De não ver os olhos estão vazios.
De não escutar os ouvidos estão ocos.
Um dia encontrei no mapa aquela cidade ao sul.
Um lugar que nasceu num tempo muito antigo.
Nela havia uma rua chamada Calle de los suspiros.
Fui até lá como atrás de um segredo.
A rua dos suspiros está povoada de passos perdidos.
Os fantasmas ocupam as casas coloniais.
Quem mora na rua dos suspiros?
A moça da janela olha as buganvílias.
O homem que não sai de casa vê seres incorpóreos nos telhados.
A luz das luminárias é amarelo calmo.
À noite se ouve nas pedras a batida de cascos de cavalos que não existem mais.
A rua dos suspiros é um camafeu pregado no oblívio.
Os ventos se reúnem na calle antes de sair a galope pelo mundo.
A dor envelheceu nesta rua.
Neste lugar, todos sofrem para dentro.
Há um salão de baile desabitado com mesas no escuro.
A orquestra foi embora carregando a música e os casais que dançavam.
A rua dos suspiros habita um retrato caído no tempo.
Quem chora a essa hora na calle deserta?
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Foto: J. Finatto
Imagem de Colonia del Sacramento, Uruguai.
Texto publicado no blog em 18/12/2010.