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terça-feira, 26 de março de 2019

Pequenas humanidades

Jorge Finatto 

photo: j.finatto


O PROBLEMA, raro leitor, é que quando a pessoa deixa de gostar de si mesma a vida torna-se muito dura. A dela e a dos que estão por perto. Por isso é do interesse geral que todos sejam felizes ou, pelo menos, o mais próximo disso que puderem.
 
O infeliz arrasta o mundo para o buraco com ele. Qualquer um de nós já passou por isso. Aparece aquela nuvem carregada sobre a cabeça. Essa nuvem se expande com facilidade.

Nessas horas precisamos de uma palavra, um olhar, um aconchego para voltar a viver. Acontece que na vida de aparências em que estamos metidos somos cada vez menos estimulados a falar de nossos sentimentos. Somos esfinges no deserto.
  
Conheço pessoas que nada mais esperam da vida. Perderam a alegria de viver. Sobrevivem a duras penas. Não que queiram. Simplesmente aconteceu. Não sabem o que fazer. Têm medo de viver, de sonhar, de sofrer de novo. Os medos.
 
Esse estado de espírito é um dos principais legados da sociedade materialista, competitiva, agressiva e desumana em que vivemos. O outro é o inimigo em armas. Existe pouco espaço para a mansidão e a solidariedade.
 
Só o afeto tem o poder de nos reconciliar com o próximo e com a vida. Longe do calor humano tudo é o mesmo que nada.

Afeto não tem preço, não se aluga, não se compra, não se vende. Se dá e se recebe.

Não precisamos ser íntimos de alguém pra passar afeto. Isso se faz num gesto de gentileza, cordialidade, atenção.

São coisas simples que, enlaçadas, são capazes de causar uma grande revolução. Está todo mundo esperando e precisando muito dessas pequenas humanidades.

Eu acredito que podemos investir mais na nossa espécie, na reciprocidade dos bons gestos, no afago.

De mãos dadas a vida é outra.

Começo a terça-feira oferecendo a você essas palavras, minha amiga, meu amigo. Elas estão vivas. Cuide bem delas, dos outros, de si mesmo. Você merece. Nós merecemos.

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Texto revisto, publicado antes em 21, outubro, 2014.
 

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Você está na Bahia, meu rei. Seja feliz

Jorge Finatto
 
foto: jfinatto

 
dedico a Jaya, Ed, Evana, Júlia, Marcos e toda equipe do Hotel Maitei; a Iago, que conheci no Café da Santa, e a Moisés, à beira-mar na Praia do Mucugê. Todos em Arraial da Ajuda

Alguns dias na BAHIA e sinto que o espírito da boa terra me contamina. Que espírito é esse? A baianidade. Certa capacidade de contemplar a vida, descomplicá-la e vivê-la ao mesmo tempo.
 
A sonhada harmonia entre o pensar, o sentir e o agir. Um filosofar diante do mar. Bebendo água de coco ao amparo de guarda-sol, palmeiras e amendoeiras. Ou num quintal à sombra de lindas folhas de bananeira.
 
Nos semblantes e no jeito baiano de falar - calmo, bem humorado, atencioso e espirituoso - a mensagem é:
 
- Você está na Bahia, meu rei. Seja feliz!
 
Se as coisas não são bem da maneira que se queria ou imaginava, a gente vai sendo feliz com o que tem, do jeito que dá. O mais deixa pra lá. A Bahia tem razão e nos faz bem.
 
foto: jfinatto
 
Aqui em Porto Seguro, onde Cabral chegou com suas caravelas pra desgraça dos povos nativos, o cara até pode ser infeliz, mas tem que se esforçar pra isso. Se se permitir tocar pelos ares locais, encontrará alegria no simples - e milagroso - respirar.

Vista Hotel Maitei. foto: jfinatto
  
A verdadeira mais-valia dessa vida é a gentileza, a cordialidade. A pequena felicidade das coisas simples. E os baianos parecem saber disso ao nos tratarem bem.

Hotel Maitei. foto: jfinatto

De ninguém a vida é fácil. Há que viver - não obstante e apesar de tudo.

A Bahia dá um colo aos corações aflitos e desencantados. E nos mostra que a vida é muito maior do que supõe qualquer vã filosofia.
 
foto: jfinatto