Jorge Adelar Finatto
designer: Deus. photo: jfinatto |
A fala principial que lhe dirijo, ó, impossível leitor.
Eu, o Landgrave, me curvo diante da vossa alta ausência. Vivo no interior do ermo, habito as brumas dos Campos de Cima do Esquecimento.
Me esqueço no esconso do mundo. Meu revólver é o calepino.
Vento de julho quase me derruba.
As fraquezas do corpo. Nunca se sabe o que vem a contrapeito. Travessias a que os fados nos obrigam.
O sonho muito sonhado tinha nome: Cléria, Cléria dos meus suspiros. Invernos ao relento. A moça de papel e tinta, musa em solidão concebida, menos tida que havida. Só a conheci de vista, na janela da mansarda, quando lá embaixo ela passava. Eu poeta tímido e sufocado.
Sentimentos que teço no abismo dos dias. Dores que não têm conta.
O fosso profundo do fundo de cada um. Meu Deus.
Foi assim.
Os vazios dias, minhas tardes distantes, à beira do penedo. Hoje eu vejo tudo aqui de cima, na mansarda. Recolhido na grossa e comprida manta, atrás dos óculos de fundo de garrafa. Não vivo mais na borda dos penhascos. Saltei para dentro da lira. O consolo possível.
Esta página escrita no sótão, arrostando vento e solidão.
Fugazes as vaidades do mundo são. Mais vale um poema que um tostão. O frio glacial dessas alturas inóspitas.
Fui resgatado do evento proceloso pela mão de salvadoras prosopopeias. Eis-me de ponta cabeça no perau do texto.
São caminhos que se andam. Depois se aprende, depois se esquece. A vida.
Eu, o Landgrave, me curvo diante da vossa alta ausência. Vivo no interior do ermo, habito as brumas dos Campos de Cima do Esquecimento.
Me esqueço no esconso do mundo. Meu revólver é o calepino.
Vento de julho quase me derruba.
As fraquezas do corpo. Nunca se sabe o que vem a contrapeito. Travessias a que os fados nos obrigam.
O sonho muito sonhado tinha nome: Cléria, Cléria dos meus suspiros. Invernos ao relento. A moça de papel e tinta, musa em solidão concebida, menos tida que havida. Só a conheci de vista, na janela da mansarda, quando lá embaixo ela passava. Eu poeta tímido e sufocado.
Sentimentos que teço no abismo dos dias. Dores que não têm conta.
O fosso profundo do fundo de cada um. Meu Deus.
Foi assim.
Os vazios dias, minhas tardes distantes, à beira do penedo. Hoje eu vejo tudo aqui de cima, na mansarda. Recolhido na grossa e comprida manta, atrás dos óculos de fundo de garrafa. Não vivo mais na borda dos penhascos. Saltei para dentro da lira. O consolo possível.
Esta página escrita no sótão, arrostando vento e solidão.
Fugazes as vaidades do mundo são. Mais vale um poema que um tostão. O frio glacial dessas alturas inóspitas.
Fui resgatado do evento proceloso pela mão de salvadoras prosopopeias. Eis-me de ponta cabeça no perau do texto.
São caminhos que se andam. Depois se aprende, depois se esquece. A vida.
O que não se tem se inventa. O mundo não tem bom coração. O delicado vive por teimoso e obstinado.
A humanidade enaltece a ruína, mata o humano. O que fizeram com esse texto as escuridões do mundo!
Cléria, sim, Cléria do capucho branco e do casaco azul claro. Cléria dos meus tormentos. Dos meus espantos e secretas ternuras. A que não se deixou amar. A desaparecida musa do vestido rosa com a fita lilás. Entrou e saiu do meu sonho sem saber.
Vivia lá no seu castelo, sem dar pela minha existência de bardo de arrabalde.
Eu o que quero agora é a solidão dos ventos gelados.
Meu olhar atravessando as névoas eternas.
Eu, o provedor das horas finitas, senhor de nadas, o catador de conchas de silêncio nos ares da infinita montanha.
Ela se foi pela estrada de ferro, sem dizer adeus.
Nas minhas saudades, ouço o ranger do velho trem saindo da estação.
A sintaxe é território que se conquista na dureza de batalhas cruentas. Palavras são coisas que criam asas e depois se lançam.
Agora sou o navegante. Viajor do tempo. Astrônomo de dicionários. O tal que restou com a bicicleta retorcida nas pedras.
O sobrevivente, ridículo pierrô interiorano.
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Texto revisto, publicado antes em 13 de outubro de 2010.