Jorge Adelar Finatto
O tempo, como se sabe, é um quarto de pensão. Num dia estamos hospedados e, noutro, não estamos mais. O viajante chega ao mundo com a mala repleta de difíceis trabalhos. Vai morar na pensão. Trata de sobreviver e nessa lida empenha seus melhores dias. Em certo momento, vem o gerente da pensão e avisa que está na hora de ir embora. Indignado, o viajante protesta: mas como, excelência, eu pago a hospedagem em dia, faço enorme esforço pra não me desentender com os demais hóspedes (o que nem sempre é fácil), levo uma vida honesta, luto pra fazer a coisa certa e, agora, quando a vida começa a melhorar, vem o senhor e me manda embora? Isso não é justo. Peço que reconsidere. O gerente, onipotente, diz tem gente esperando a vaga do quarto, você jamais foi dono de nada, isto aqui é uma pensão, um lugar de passagem, lembra? Nunca houve promessa de quarto eterno. O senhor tem de partir. Mas pra onde, pergunta o perplexo viajante, depois de todos os sacrifícios, é isso que me espera? Não faz sentido. E quem disse que tem que ter sentido? Arrume a mala e vá para a estação. O seu trem não demora a chegar. O viajante fica em silêncio. Desiludido, fecha os olhos. Uma cálida lágrima escorre pela face.
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