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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Caminho dos ventos

Jorge Finatto

fotos: jfinatto
 
Gosto de coisas que se movimentam conforme a levada dos ventos. 

QUANDO A GENTE pensa que aprendeu alguma coisa na vida, que já sofreu o seu quinhão neste mundo de Deus, aí vem o imponderável e mostra o contrário. Tudo continua em aberto.

É por isso que eu gosto de flores, cata-ventos, pandorgas, borboletas, palmeiras, livros e gente que não é inflexível.

Estou exausto de tanta dureza e indiferença. Não precisava ser assim. A vida é um dom raro demais pra ser desperdiçado com tanta injustiça, maldade e sofrimento.

Gosto de coisas que se movimentam conforme a levada dos ventos. Construo as próprias asas no galpão de fundo de quintal da minha alma.

Quero mais humanidade, beleza e leveza no voo.
 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O segredo dos pássaros

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto, 10.9.2014
 
Se outra vida houvesse além dessa (e se eu acreditasse em reencarnação), na próxima existência eu queria ser pássaro.
 
Os pássaros voam e cantam. Têm cores vivas, pinturas incríveis espalhadas pelo corpo. Como se não bastasse, fazem lindos e cálidos ninhos para morar. Habitam nas árvores, sótãos, telhados, muros, rochedos. Não têm senhorio a sugar-lhes o sono e o sangue.
 
Vivem o instante que cantam e não têm consciência do tempo que passa. Não têm, por isso, os pássaros, a dolorosa e trágica perspectiva de quem navega na canoa em direção ao precipício.

Os antigos navegadores sempre tiveram razão: no fim do mundo tem um abismo imenso e intransponível para o qual correm todas as águas...
 
Agora passam duas gralhas azuis voando diante da minha janela, no horizonte das montanhas e pinheiros.

Na árvore em frente (um jovem pinheiro-bravo), a pequena saíra (todas as cores) enfeita a tarde e afasta a visão do perau.
 
O voo-canto dos pássaros enche o vazio. Com tão pouco se constrói a leveza.
 
Só sei que essa presença amiga alimenta o meu coração. Por um momento, esqueço as dores da vida. Bem-hajam!
 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

A aventura do flamingo cor-de-rosa

Jorge Adelar Finatto
 
Flamingo. Foto: Aaron Logan. Fonte: Wikipédia
 

O flamingo pousou na popa do veleiro quando passávamos pela Ilha do Barba Negra, na Lagoa dos Patos (que, àquela hora, brilhava sob o sol amarelo e intenso da tarde de fevereiro).
 
Pousou ao lado de Filipo, o papagaio marinheiro, que estava sentado e distraído na beira do barco, os olhinhos fechados, peito estufado respirando a brisa. Filipo deu um salto com o susto, o boné de marinheirinho caiu na água. O flamingo recolheu-o com o bico.

Essas surpresas acontecem na vida de quem navega. Tínhamos saído para dar um giro com nosso veleiro Solitário, a fim de rever as belezas do Rio Guaíba e da Lagoa dos Patos, suas ilhas e pássaros. E também para ficar distante do ruído e do trânsito violento da cidade, da correria agressiva e sem sentido.

Filipo indagou do flamingo, na linguagem das aves, qual era seu nome e de onde vinha. Ele respondeu que se chamava Arquibaldo e que vinha de Amsterdam, sua cidade natal, na Holanda.

Vivia com a família num barco abandonado num dos canais daquela bela cidade. Estava em viagem de férias com os pais e irmãos quando o inesperado aconteceu.
 
Amsterdam. photo: j.finatto
 
Na altura do arquipélago dos Açores, uma tempestade dispersou a família de flamingos e arremessou Arquibaldo em outra direção, separando-o do grupo. Depois de vencer o medo e a ventania, voou muito e pegou carona num navio.
 
Acabou chegando ao sul do Brasil após vinte dias, quando o navio fundeou no porto de Rio Grande. Depois Arquibaldo saiu voando, seguindo o rumo da Lagoa dos Patos até nos encontrar. Estava exausto e atordoado com os últimos acontecimentos.

Os flamingos, em geral, têm a plumagem cor-de-rosa. Em Arquibaldo essa cor é ainda mais viva, um rosa antigo de doer nos olhos. Providenciamos uma boa alimentação e um bom descanso na cabine para nosso novo amigo.
 
Arquibaldo é um flamingo adolescente e observador, com bom humor e espírito de aventura. Sentiu-se tão bem que pretende ficar conosco até o final do verão, quando então regressará para junto de sua família na casa-barco de Amsterdam.
 
O peixinho Moisés, nosso companheiro de navegações, pulou do Guaíba para o interior do barco e ficou dentro do balde conversando com Arquibaldo.

Na Ilha das Pedras Brancas, rumamos em direção ao Parque da Harmonia e, daí, para o velho cais de Porto Alegre, sempre ouvindo a incrível história do mais novo membro da tripulação.

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Mais aventuras do veleiro Solitário em:

Navegador de barco de papel
http://ofazedordeauroras.blogspot.com/2011/08/navegador-de-barco-de-papel.html

A volta do barco de papel
http://ofazedordeauroras.blogspot.com/2010/10/volta-do-barco-de-papel.html

Texto revisto, publicado em 10.02.2012.