sábado, 25 de janeiro de 2014

Montanhas cobertas de sol e neve

Jorge Adelar Finatto
 
 
montanha gelada com sol, Suíça, 24.01.2014. photo: j.finatto
 

No aeroporto de Lisboa, antes de embarcar para Genebra ontem, escolhi o jornal Público no balcão da TAP para leitura de bordo e a revista Sábado, esta ainda não conheço. Além do Público, gosto também do Jornal de Notícias e só eu sei a falta que sinto das crônicas do Manuel António Pina (1943-2012) nas páginas do periódico.
 
Poeta, escritor e jornalista de grande talento, lúcido e criativo, Pina faz muita falta à língua portuguesa e a nossa vida. O olhar crítico do escritor sobre a realidade temperado com a partilha do sonho nos dava esperança, esse sentimento que nos mantém vivos e nos empurra para frente.
 
Tenho uma relação de livros dele que vou comprar antes de retornar a Passo dos Ausentes, no Porto ou em Lisboa. Até onde sei, nada se publicou dele no Brasil até agora, o que é uma ausência imperdoável.
 
Venho à Suíça em função de um evento envolvendo o poeta Rainer Maria Rilke (1875-1926), uma de minhas devoções literárias. Ele viveu no cantão do Valais os últimos anos de sua vida e ali concluiu a notável obra. Era um homem de temperamento contemplativo, brando, sentimental, calmo, a ponto de agüentar o mau gênio de Auguste Rodin quando foi seu secretário, ainda nos anos de juventude, em Paris, sendo um bom amigo.
 
A notícia é que mal cheguei aqui e já sinto saudade de Portugal. Poucas cidades são tão belas como Lisboa. E as pessoas são especiais em todo lugar.

A julgar pela têmpera, alma, valores e criatividade do povo português, acho que o país sairá desse difícil momento muito fortalecido, e virão dias grandiosos pela frente. Digo isso a partir da observação que faço nos últimos anos. Alguma coisa muito boa está sendo gerada no sal desse silêncio.
 
Como essas montanhas que a neve cobriu, congelando as seivas. A vida está lá, latente, invisível, e vai explodir na primavera.