Mostrando postagens com marcador palavra escrita. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador palavra escrita. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Mensagem numa garrafa

Jorge Finatto
 
photo: Dave Leander. fonte: abc News
 

QUEM COLOCA MENSAGEM dentro de uma garrafa, jogando-a ao mar, ou ao rio, alimenta a esperança de que um dia alguém a encontre e leia. A palavra escrita, dentro e fora de garrafas, é um modo de lutar contra o esquecimento. No íntimo de cada um, o desejo de prolongar a vida no texto, de fazê-la maior, mais humana, menos frágil.
 
Ansiamos ressuscitar nos olhos de quem nos lê. As cartas, os bilhetes dos suicidas, as mensagens eletrônicas, os poemas, os livros, os blogues, as tais redes sociais, são maneiras de dizer: estou vivo. Tudo se escreve para fugir da casa do oblívio. 
 
A palavra, ao contrário de nós humanos, permanece. É capaz de carregar por séculos  a nossa efêmera felicidade, a nossa perplexidade, o nosso desespero e a nossa esperança. Por vezes, é tudo que fica de um dia feliz numa ilha ensolarada. Às vezes, é tudo que fica de uma vida.
 
________ 
Excerto de texto publicado em 24 de junho de 2013.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

A procura da maravilha

Jorge Finatto

photo: jfinatto
 
 
O problema é quando se espera mais da PALAVRA ESCRITA do que ela pode dar. E ela não pode dar tudo. Como em todas as coisas, há um limite. Nenhum livro substitui a vida. Falo por mim, mas acho que vale pra muitos.
 
Quantas vezes embarquei em viagens literárias com expectativas muito além, buscando fugir pra sempre do real. Sim, escapar da maldita realidade. Quantas vezes me enganei nessa procura. Não se pode viver dentro de livros. Há sempre o doloroso retorno.

Como acontece em qualquer arte, a literatura pode encantar e nos levar a algo próximo da ilha da maravilha. E é bom que assim seja. Quantas vezes me salvei viajando em páginas impressas.

Não fosse a arte, muitos enlouqueceriam. Se é verdade que nada substitui o real, por outro lado não se pode viver sem algum tipo de evasão. É necessário dosar: um pouco lá, outro cá. Pra não perder o juízo, a saúde, a capacidade de se emocionar.
 

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Ler e escrever

Jorge Adelar Finatto
 
photo: jfinatto. grafite de F. Pessoa no Chiado, Lisboa, 2007

Ler é uma maneira de ser feliz mesmo estando rodeado de infelicidade. O livro é o meio de transporte mais simples e portátil que existe. Com ele fazemos grandes viagens sem sair do lugar, sem passaporte, sem medo de avião.
 
Escrever é um jeito de suportar as realidades da vida e, sobretudo, uma maneira de não se matar diante das imensas adversidades e frustrações. Um modo de ir além dos ossos do cotidiano.

O processo da escrita traz em si a alegria da realização, mas traz também um bocado de angústia e sofrimento junto.

Poucas pessoas tiveram uma vida mais sem graça do que Fernando Pessoa (1888-1935), cujo 127º aniversário de nascimento se comemora neste sábado, 13 de junho. E, no entanto, está entre os grandes gênios literários da humanidade. Através da poesia viajou todo o universo sem sair de Lisboa.

A sua poesia o salvou e de alguma forma nos salva também.
 
Ele foi pobre materialmente, viveu encostado nos parentes, deparou-se com o paredão duro, cinza e desumano do mundo, mas nos deixou um legado espiritual imenso. Ele bebeu muito. Mas sua verdadeira cachaça foi sempre o escrever. Nele operou-se o milagre da palavra escrita como poucas vezes acontece.

Feliz aniversário, Fernando.