quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Na tarde fria e nevoenta de Gramado, todos somos celebridades

O Cavaleiro da Bandana Escarlate

photo: j.finatto

Alguns haverão de encontrar encanto em sair do cálido quarto de hotel, abandonar a leitura da antologia de contos de Juan Carlos Onetti e mergulhar na paisagem gelada e nevoenta de Gramado para assistir filmes no Festival de Cinema. Tenho lá minhas dúvidas sobre isso.


photo: j. finatto

No hotel onde estou hospedado há tantos astros, estrelas, diretores e gente envolvida com cinema, que até um anônimo como eu chama a atenção. Tenho participado de variadas rodas sobre temas relacionados ao mundo da tela grande. Não que eu queira. Simplesmente me pegam pelo braço no corredor, no café, no jardim, como se fosse um deles, e me levam pra lá, pra cá.


photo: j.finatto

Não é de bom tom perguntar-se o nome dos outros nesse ambiente, supondo-se que entre nós, celebridades, existe o recíproco reconhecimento. A mim chamam-me Carlos, o Carlinhos do 707. Pertenço agora à malta. Eu, que sou como um peixe navegando nesses mares de Deus, sempre gostei deste nome e já agora me sinto à vontade com a nova identidade.

Um diretor famoso cismou de dizer, num desses encontros, que, no início da carreira, trabalhou como meu assistente num filme, que eu lhe dei a primeira oportunidade. Espantado, tentei dizer que não, não era bem assim. Mas ele imediatamente retrucou:

- Além de tudo, humilde.

Os presentes aplaudiram. Limitei-me a esboçar um tímido aceno.

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O Cavaleiro da Bandana Escarlate, menestrel medieval e livre-pensador, faz a cobertura do Festival de Cinema de Gramado para o blogue a convite de Alberta de Montecalvino. Como o blogue não tem mecenas, o Cavaleiro paga todas as suas despesas e acha que está bem assim.

Festival de Cinema de Gramado 2011. Com licença, realidade: chegou a hora da ilusão (V)

O Cavaleiro da Bandana Escarlate


photo: j. finatto

Troféu Oscarito. A cerimônia de entrega do Troféu Oscarito a Fernanda Montenegro, 81 anos, ontem à noite, no Palácio dos Festivais, foi simples e emocionante. A grande dama do teatro, cinema e televisão mostrou, em poucas, justas e ternas palavras, a sua nobreza, serenidade e qualidade humana. Lembrou do extraordinário ator Oscarito, que chegou a conhecer, e também do ator Ítalo Rossi, com quem trabalhou várias vezes, que morreu na semana passada. Fernanda, não bastasse o talento que Deus lhe deu, é alguém que nos transmite dignidade, confiança, gratidão, carinho. O teatro encheu-se de aplausos para a atriz.


Fernanda Montenegro, à direita. photo: j.finatto


La lección de pintura. Um belo longa-metragem chileno, com fotografia intensa e impecável. O diretor Pablo Perelman disse que retirou a história de uma pequena novela (não mais do que 35 páginas) de um escritor de seu país que também era pintor, já falecido, adaptando-a. Um menino filho de mãe solteira, numa cidadezinha do interior do Chile, considerado um gênio da pintura, tem sua trajetória bruscamente interrompida pelo golpe militar contra Salvador Allende. Há também a complexidade psicológica dos personagens, a narrativa precisa e humana. É um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos.

As híper mulheres. Impressionante longa brasileiro, na linha do documentário. Aborda o povo indígena Kuikuro, do Alto Xingu, no estado do Mato Grosso.  O filme trata do maior ritual feminino daquela região, o Jamurikumalu. Mostra a cultura daquele povo e, nela, a forte presença feminina em relação àquele rico universo. Dirigido por Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro.

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O Cavaleiro da Bandana Escarlate, menestrel medieval e livre-pensador, faz a cobertura do Festival de Cinema de Gramado para o blogue a convite de Alberta de Montecalvino.