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quarta-feira, 13 de maio de 2020

A queda de Chet Baker em direção ao infinito

Jorge Finatto

Chet Baker, 1983. foto: Michiel Hendryckx
Wikipedia

Faz hoje 32 anos que Chet Baker (1929 - 1988) morreu após despencar da janela de um quarto de hotel em Amsterdam. Nunca se esclareceu se foi suicídio ou morte acidental. Um mistério.

O que não é mistério é a enorme contribuição dele ao jazz e à música. Com seu maravilhoso trompete e sua voz cálida, quase sussurrada, inventou uma nova maneira, personalíssima, de fazer música.

Aos 58 anos perdeu a vida, uma vida atormentada que lhe pregou dolorosas peças. O envolvimento com as drogas foi um capítulo dramático em sua existência.

A música foi sua salvação. Nos palcos onde pisou, com big band ou solitário, uma aura de silêncio tomava conta quando, sentado, silhueta esguia, empunhava seu instrumento. Naquele diminuto território ele era o mágico senhor dos sons e sentimentos.

No vasto fundão do universo, imagino que, em certa noite de melancolia, Deus criou Chet para aquecer o seu coração e o coração dos homens.


Não me abandones*

                         a Chet Baker

Não me abandones
povoa a noite
com teu suprimento
de afeto

enche o deserto
com teus passos

em segredo
devolve-me
a delicadeza
daqueles dias

me dá outra vez
o diamante
da tua
presença


________

*Do livro O Habitante da Bruma, Jorge Finatto, Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1998.
Leia também Chet on poetry:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/06/uma-viagem-sentimental.html

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A música espiritual de Myriam Alter

Jorge Finatto
 
Myriam Alter*

FAZ ALGUNS ANOS  encontrei o disco Where is there (2007) da compositora e pianista belga Myriam Alter. Desde então está entre meus álbuns favoritos. Não me canso de ouvir. Parece que as músicas nunca são as mesmas.

Trata-se de artista de talento original e brilhante. Há algo de espiritual e misterioso em sua obra. As melodias dialogam com a interioridade de quem as ouve.
 
As músicas de Myriam são refinadas, líricas e sedutoras ao mesmo tempo. Com elas viajamos por desconhecidas esferas e para dentro de nós mesmos. O jazz se faz presente em sua arte, mas existem outras influências.

Há uma aura de estranhamento nessas adoráveis e por vezes hipnóticas composições. Piano, contrabaixo acústico, sax, acordeom, flauta, bateria, entre outros, criam uma  infinita dança de notas que se entrelaçam no ar.
 
A artista não produz em grande quantidade, no que faz muito bem. Ao contrário, prima pela qualidade. No site oficial encontrei seis discos. No youtube há peças de tirar o fôlego, como as dos discos If (2002) e CrossWays (2015). A inspiração e a construção altamente elaborada andam juntas em seu trabalho.

Não sei onde Myriam Alter vai buscar seus sons de diamantes e galáxias distantes. É um segredo. Mas o que importa é que, no retorno, ela nos entrega o melhor e mais profundo de sua viagem às estrelas e ao fundo do coração.

_________ 
Myriam Alter, site oficial:
http://www.myriamalter.com/
Myriam Alter, "If":
https://www.youtube.com/watch?v=-s5HNoooXEA 
*Myriam Alter: Cross Ways
http://jazzdagama.com/cds/myriam-alter-cross-ways/