Jorge Adelar Finatto
Deve ter sido assim
num lugar assim
num tempo assim
ele foi feliz um dia
sem saber o que era
felicidade
felicidade
Uma fotografia guardada há muito tempo na gaveta. Ele já esteve nesse lugar. Nem sabe quando. Uma velha casa de madeira entre pinheiros. Um córrego esperto cantando ali perto. Pode ouvi-lo agora claramente. Na janelas laterais, floreiras com gerânios de variadas cores.
Lá dentro, em volta de uma grande mesa, pessoas se reúnem para o café da tarde. Um alarido de véspera de primavera. O menino olha aqueles rostos iluminados. O cheiro de pão feito em casa, no fogão de barro, se espalha por tudo.
Em volta daquela mesa, retratos na parede. Em volta da parede, o mundo gira em lentas rotações.
O aroma de jasmim invade o ambiente. No quintal grande, caminha-se entre laranjeira, ameixeira, romãs, pitangueira, mamoeiro, parreira, abacateiro. O cinamomo florido abre os galhos perto do poço, o banco pintado de branco embaixo.
Há muito tempo ele não visitava a casa da infância.
Há muito tempo ele não visitava a casa da infância.
As buganvílias exalam azul e branco no jardim.
O gato dorme entre novelos de lã na cadeira de balanço.
O gato dorme entre novelos de lã na cadeira de balanço.
Um dia recortado no tempo. Pessoas vivendo sem medo da separação. Cálida alegria.
A fotografia, camafeu sentimental.
Deve ter sido assim, num lugar assim, num tempo assim, ele foi feliz um dia, sem saber o que era felicidade.
Deve ter sido assim, num lugar assim, num tempo assim, ele foi feliz um dia, sem saber o que era felicidade.