Jorge Adelar Finatto
Vista das catedrais de Salamanca (à dir.) a partir da ponte construída pelos romanos sobre o rio Tormes no início da era cristã. photo: j.finatto |
Há um monge adormecido na minha alma. Alguém que se alegra no silêncio e no recolhimento do invisível claustro. Como todo monge que se preze, gosta mais da Renascença do que da Idade Média.
O monge que me habita - esse tal que atravessa o oceano para visitar a solitude de velhas igrejas - gosta da arte religiosa, porém é um iconoclasta e um revoltado quando se trata da Inquisição, de inquisidores e abusadores sexuais da Igreja Católica.
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Aos diabos com todos eles. Que ardam no inferno que criaram. Que respondam pelos crimes cometidos, diz o monge inconformado.
- Não se misture essa gente má com aqueles que, no âmbito da religiosidade sã, tantas coisas boas fizeram e fazem. Cada macaco no seu galho.
Levo o monge a caminhar pelas ruas do Casco Viejo de Salamanca, na Espanha. Vamos até o interior das catedrais Velha e Nova. A Velha foi construída entre os séculos XII e XIV, nos estilos românico e gótico. A Nova, entre os séc. XVI e XVIII, nos estilos gótico e barroco. São geminadas, transita-se internamente por ambas, sem necessidade de sair à rua.
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O monge passeia entre as naves e oratórios, nichos, relicários e retábulos. Voa em direção às abóbadas, vôo em profundidade vertical acima das colunas para estar mais perto da luz que entra parecendo iluminar a treva da condição humana.
Quem sabe um anjo aparece e nos salva do vazio e da tristeza desse mundo, consola-se o monge.
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Detalhe das catedrais. photo: j.finatto
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