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sexta-feira, 3 de abril de 2015

A manhã expulsa a escuridão

Jorge Adelar Finatto
 
photo: jfinatto

É muito triste andar só, embora a gente esteja quase sempre sozinho.

Nunca nos falte essa luz, Maria, a do espírito. Sim, essa que nos guia pelos caminhos sombrosos do treva-mundo.
 
Pode faltar o pão, mas não nos falte a luz interior. A escuridão mata, porque através dela nada podemos encontrar e já não somos encontrados.
 
A escuridão é o oposto do respirar claro, Maria, é o contrário do sol, do calor humano e da presença de Deus.
 
O que eu mais quero na vida é claridade, como a que eu sentia quando pegava na tua mão naquela hora em que tudo em volta era motivo de aflição.
 
Procuro luz para admirar as coisas do mundo, para enxergar o semelhante, para ter encanto na vida.
 
Luz pra desviar das armadilhas, dos monstros noturnos e diurnos, dos abismos.
 
Noite é bom pra conversar na varanda, olhar a luz das estrelas e da Lua. Sonhar e esperar o amanhecer.

É muito triste andar só, embora a gente esteja quase sempre sozinho.

Se tiver que caminhar no escuro um dia desses, que pelo menos os vaga-lumes apareçam. 
 
De tanta escuridão neste mundo estou bem farto.

Por favor, Maria, não deixe que anoiteça sobre mim. Mas se tiver que acontecer, me dê a tua mão na hora de apagar a luz e fechar a porta.
 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

As últimas cores

Jorge Adelar Finatto 
 
photo: j.finatto, 24.01.2014
 

No itinerário que faço durante a caminhada polifônica, há sempre uma claridade que me faz parar na beira do caminho. É uma hortênsia que reúne na sua floração diversas cores e texturas. Há anos que a observo durante os meses de verão.

Paro para olhá-la de perto e sempre a fotografo, impressionado com sua exuberância. Como quem quisesse proteger contra o esquecimento imagem tão bela.

Não conheço outra hortênsia com tal diversidade e luminosidade.
 
A sua pintura se compõe e decompõe em inumeráveis tons, dos quentes aos frios, ao longo do período que começa lá por novembro e vem até finais de fevereiro. Sempre variando nas tintas.

Não resisti e fotografei-a mais uma vez em busca dessas que são, provavelmente, as últimas composições de sua mágica paleta. Essas photos testemunham as cores finais que ela emite nesse verão.

photo: j.finatto, 24.01.2014

Em breve ficarei sem essa beleza na beira do caminho. 
 
Mesmo agora, no momento em que se despede para hibernar por muitos meses (tempo no qual vai fabricar novas tintas), a hortênsia não priva o caminhante dos seus derradeiros instantes de beleza. Faz ainda o seu melhor. Um exemplo para nós.

A hortênsia, no seu encanto humilde e sereno, é só visão e dádiva.

photo: j.finatto, 24.01.2014