Jorge Finatto
Coral. photo by: Linda Wade. Wikipédia |
A parede é espessa e fria. O tempo é circular e monótono como um carrossel. Ela escreve no computador e faz desenhos na caverna moderna onde vive. Em volta do fogo, ela espera.
Às vezes, penetra um vazio na alma, dá vertigem. Então ela bate com o nó dos dedos na parede, como se houvesse uma porta, alguma secreta passagem, como se existisse alguém do outro lado. Precisa acreditar que existe vida. Vida humana, vivente e cálida.
Um coração, uma pessoa como ela entre quatro paredes, quatro décadas, um coração partido em fatias igual o dela, como o bolo caseiro sobre a mesa. O silêncio caseiro.
Nuvens de signos saem do teclado pelo espaço, um grito abafado pela solidão. Talvez exista alguém do outro lado, que também espere como ela, e sinta frio, e queira ir embora com ela dessa cidade trágica e deserta, fugir disso tudo, abandonar o mar morto das cavernas urbanas. Pobres corais sofrendo sozinhos e calados.
Enquanto pensa essas coisas, ela prepara o café da noite.
Enquanto pensa essas coisas, ela prepara o café da noite.
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Texto revisto, publicado antes em 25.11.2010