Jorge Adelar Finatto
Madri. Dizem que a poesia nao dá retorno econômico, os livros de poemas nao vendem ou vendem mal. Em tempos como o que vivemos, o dinheiro passa a ser tudo, porque esta é a lei dos que mandam no mundo, o sistema bancário e a indústria de armas.
A vida podia ser muito melhor para todos mudando algumas peças desse tabuleiro. Nos Estados Unidos e na Europa, os peoes, torres, cavalos e bispos começam a avançar contra os reis e rainhas do atual sistema.
A economia é uma dimensao importante da realidade, mas nao pode ser a única a ditar regras.
Quanto vale, eu pergunto, o Poema em linha reta do Fernando Pessoa (lembrando que ele escreveu centenas de outras obras-primas como essa)? Ele que passou a vida dependendo de favores de familiares e de amigos, muito embora trabalhasse como tradutor em casas comerciais.
Quanto vale, para as finanças do país e do universo, o amanhecer sobre a névoa em Passo dos Ausentes, o som do riacho escorrendo entre os seixos, à sombra das árvores?
Quanto vale a queda amarela dessa minúscula folha, na tarde de outono, um acontecimento irrepetível, porque nunca mais haverá esta folha nem este momento?
Quanto vale o nosso sentimento em relaçao às pessoas e ao mundo? Pense nas coisas que lhe sao caras. A maioria delas nao tem seu valor estimável em dinheiro.
As coisas espirituais nao podem ser reduzidas a um sorriso irônico e simplesmente jogadas no lixo como sao.
A crise por que passamos é uma oportunidade de mudar o jogo, tornar o planeta mais humano, pondo fim à fabricaçao e venda de armas e impondo limites aos imperadores dos bancos. Mais agricultura, mais livros, menos conflitos, mais vida.
Escrevo enquanto espero o trem na estaçao de Atocha, saboreando a invencível taça com pao e manteiga. A vida pode ser simples e boa.