Jorge Adelar Finatto
Saio a navegar no meu barco de papel pra esquecer o mundo.
Eu, quando quero dar férias à realidade, entro no barco colorido e parto em viagem pelo Guaíba.
Dessa vez reforcei a embarcação. Tomei uma folha de papel mais resistente à intempérie, fixei melhor as dobras. Levantei mais a vela-mestra. Na parte interna, coloquei utensílios mais leves.
Um forte vento sul, porém, apanhou o barco no meio do rio. Agitou as águas de tal modo que as ondas começaram a nos jogar pra cima. O pior era a queda livre na volta. O corpo ficou todo dolorido.
Pra piorar a situação, desabou uma tempestade.
Frágil, o barquinho foi se desmanchando. A vela-mestra foi a primeira peça a ruir, depois foram as outras.
Filipo, o papagaio que me acompanha nas navegações, achou que desta vez não escaparíamos.
- Vamos morrer, capitán!
- Tenha fé, nobre Filipo -, disse-lhe eu. Não desanimemos numa hora dessas, amigo. As nuvens más haverão de dissipar-se.
O peixe Moisés, nosso companheiro de aventuras, nadava aflito ao lado do pequeno veleiro.
Quando o barquinho, enfim, se transformou numa pasta branca de papel, eu respirei fundo antes de afundar no Guaíba.
Mas não era dia de morrer.
A ventania, na sua fúria, nos empurrara pra perto da margem.
Ao cair no rio, a água bateu na altura da cintura. Filipo, que estava encolhido e agarrado no meu esquerdo ombro, gritou animado:
- Conseguimos, capitán!
Moisés respirou aliviado, deu um salto de felicidade e voltou para o interior do rio.
A navegação em barco de papel, amigo leitor, é uma arte.
Como toda arte, tem sua ciência e seus segredos.
O que é preciso pra navegar desse jeito? Bem pouca coisa.
Uma folha branca, lápis de cor, imaginação e um coração quase feliz.
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Texto revisto, publicado em 20 de outubro, 2010.