Jorge Adelar Finatto
| photo: j.finatto | 
As hortênsias resolveram embelezar a cidade. Era só o que faltava.
Em meio a tanta desilusão, tanta feiura das almas, tanta gente má e casca grossa, vêm agora as hortênsias e decidem distribuir beleza e graça. 
Um negócio muito estranho.
Um negócio muito estranho.
| photo: j.finatto | 
Um verdadeiro escândalo aqui em Passo dos Ausentes. 
Quando achava que não tinha mais jeito, quando nada mais esperava diante do triste espetáculo humano, as hortênsias surgem em silêncio, espargindo cor e delicadeza sobre cinzas. 
O que mais nos espera?, eu pergunto, e já ninguém responde.
Tanta beleza é mesmo uma violência contra a desolação. 
O que será feito da nossa histórica descrença no Brasil e em nós mesmos? 
E o que restará do nosso olhar melancólico sobre o sentido da existência? É o fim dos tempos.
Devia ser aberto, imediatamente, um inquérito contra as hortênsias por tamanho absurdo e desacato à ordem estabelecida, verdadeiro atentado violento ao pudor a céu aberto. 
Mas ninguém faz nada, este é realmente o país da impunidade.
Nem maldizer a vida em paz a gente pode agora.
Nem maldizer a vida em paz a gente pode agora.
É o fim da picada.
| photo: j.finatto | 
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O título podia ser A sagração da primavera, uma feliz recordação da música de Igor Stravinsky, diante da estação que se aproxima (chega em setembro).
Texto revisto, postado antes em 12/12/2011.
