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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O escândalo das hortênsias

Jorge Adelar Finatto
 
photo: j.finatto


As hortênsias resolveram embelezar a cidade. Era só o que faltava.

Em meio a tanta desilusão, tanta feiura das almas, tanta gente má e casca grossa, vêm agora as hortênsias e decidem distribuir beleza e graça.

Um negócio muito estranho.
 
photo: j.finatto

Um verdadeiro escândalo aqui em Passo dos Ausentes.

Quando achava que não tinha mais jeito, quando nada mais esperava diante do triste espetáculo humano, as hortênsias surgem em silêncio, espargindo cor e delicadeza sobre cinzas.
 
O que mais nos espera?, eu pergunto, e já ninguém responde.

Tanta beleza é mesmo uma violência contra a desolação.
 
O que será feito da nossa histórica descrença no Brasil e em nós mesmos?
 
E o que restará do nosso olhar melancólico sobre o sentido da existência? É o fim dos tempos.

Devia ser aberto, imediatamente, um inquérito contra as hortênsias por tamanho absurdo e desacato à ordem estabelecida, verdadeiro atentado violento ao pudor a céu aberto.
 
Mas ninguém faz nada, este é realmente o país da impunidade.

Nem maldizer a vida em paz a gente pode agora.
 
É o fim da picada.


photo: j.finatto

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O título podia ser A sagração da primavera, uma feliz recordação da música de Igor Stravinsky, diante da estação que se aproxima (chega em setembro).
Texto revisto, postado antes em 12/12/2011.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

As últimas cores

Jorge Adelar Finatto 
 
photo: j.finatto, 24.01.2014
 

No itinerário que faço durante a caminhada polifônica, há sempre uma claridade que me faz parar na beira do caminho. É uma hortênsia que reúne na sua floração diversas cores e texturas. Há anos que a observo durante os meses de verão.

Paro para olhá-la de perto e sempre a fotografo, impressionado com sua exuberância. Como quem quisesse proteger contra o esquecimento imagem tão bela.

Não conheço outra hortênsia com tal diversidade e luminosidade.
 
A sua pintura se compõe e decompõe em inumeráveis tons, dos quentes aos frios, ao longo do período que começa lá por novembro e vem até finais de fevereiro. Sempre variando nas tintas.

Não resisti e fotografei-a mais uma vez em busca dessas que são, provavelmente, as últimas composições de sua mágica paleta. Essas photos testemunham as cores finais que ela emite nesse verão.

photo: j.finatto, 24.01.2014

Em breve ficarei sem essa beleza na beira do caminho. 
 
Mesmo agora, no momento em que se despede para hibernar por muitos meses (tempo no qual vai fabricar novas tintas), a hortênsia não priva o caminhante dos seus derradeiros instantes de beleza. Faz ainda o seu melhor. Um exemplo para nós.

A hortênsia, no seu encanto humilde e sereno, é só visão e dádiva.

photo: j.finatto, 24.01.2014