Jorge Adelar Finatto
Lisboa, 10 nov. O fado é uma música visceral que vai direto ao coração. Se não arrepia, não é fado. Ouçamos estes versos que escutei na Tasca do Chico, na madrugada de ontem:
Eu era só silêncio e alguns medos (…)
Escrevia na folha do esquecimento, que no vento se perdia (…)
O sentimentalismo lusitano é capaz de construções assim. Emoção à flor da pele, sensibilidade viva. Este modo de perceber o mundo está na origem da nossa formação. Carregamos essa herança afetiva de Portugal. Ave, pois, Camões, Padre Vieira, Fernando Pessoa, Eugênio de Andrade, Ruy Belo.
Ave, entre nós, Drummond, Vinicius, Quintana, Alvaro Moreyra, Heitor Saldanha, Henrique do Vale, Ricardo Mainieri.
Ave, toda a gente do fado, poetas que estão por aí e mais os que virao depois.
Ave, entre nós, Drummond, Vinicius, Quintana, Alvaro Moreyra, Heitor Saldanha, Henrique do Vale, Ricardo Mainieri.
Ave, toda a gente do fado, poetas que estão por aí e mais os que virao depois.
Engana-se quem pensa que fado é só tristeza, desilusão e dor. Nele há alegria, encontros e sonhos. O fado nasceu aqui ao lado, no bairro da Mouraria, para onde foram os mouros após a retomada de Lisboa por El Rei, por volta do ano 1100. Eternizou-se na voz de Amália e hoje canta pelo mundo no jeito dos jovens fadistas.
O vinho e o fado me fazem pensar (e sentir) que a razão longe do coração está perdida. O mundo do futuro – mais justo e muito mais humano – deverá surgir dessa união de sentimento e razão.
A indiferença que apaga e suprime o outro é casa de maluco. Está com os dias contados.
O povo do afeto tomará conta do planeta.
Viva o fado.