Fazia mais de um ano que eu lia, diariamente, as crônicas do poeta, jornalista e escritor português Manuel António Pina, publicadas na página da internet do Jornal de Notícias de Portugal. Ao abrir o notebook, geralmente ia para o endereço eletrônico do jornal, guardado entre os favoritos. Para tristeza de seus muitos leitores, ele morreu ontem à tarde, sexta-feira, aos 68 anos, na cidade do Porto, onde vivia, e o corpo será cremado neste domingo.
Essa convivência começou quando ouvi falar dele pela primeira vez, ao receber o Prêmio Camões de Literatura em 2011. Na ocasião me interessei pelo autor, pesquisei a respeito e encomendei um livro seu de Portugal, Nenhuma palavra e nenhuma lembrança.
Impressionou-me nesse período sua lucidez e sensibilidade ao tratar de assuntos que iam desde os meandros e mistérios da criação literária até os angustiantes temas da atualidade, na Europa e no mundo. A coragem do jornalista convivia nele com o poeta inventivo.
Impressionou-me nesse período sua lucidez e sensibilidade ao tratar de assuntos que iam desde os meandros e mistérios da criação literária até os angustiantes temas da atualidade, na Europa e no mundo. A coragem do jornalista convivia nele com o poeta inventivo.
Em entrevista a Sérgio Almeida, do Jornal de Notícias, em 20 de julho de 2010, declarou Pina:
Não escrevo poesia como escrevo crónicas, profissionalmente. No caso da poesia, sou antes amador, isto é, aquele que ama. Só escrevo poesia quando não posso deixar de escrevê-la. Ou, como Borges diz (acho que é Borges), quando uma espécie de incomodidade, ou de remorso, me força a procurar a poesia. O facto de passar às vezes anos sem publicar poesia não significa que tenha deixado de escrever poesia. Tenho há muito um livro praticamente pronto, reunindo poemas dispersamente publicados aqui e ali, em jornais e revistas, e inéditos. Não tenho é tido tempo (nem pachorra) para trabalhar sobre alguns poemas que continuam à procura de si mesmos. Dois ou três deles estão há anos presos por um único verso; tenho, de alguns desses versos, inúmeras versões, ou tentativas, mas não são o que procuro. Embora não saiba o que procuro, sei que, quando o encontrar, o reconhecerei. Resta-me esperar; não tenho pressa.
No final de 2011, durante permanência em Portugal, eu ia todos os dias à banca comprar o JN só para lê-lo.
Desde agosto último procurava e não encontrava suas crônicas no Jornal de Notícias. Pensei que estava em férias prolongadas ou algo assim, escrever para jornal dia após dia é negócio de doido, precisa dar um tempo às vezes. Mas não, a doença o afastava do trabalho.
Ficamos agora, seus inumeráveis leitores, sem a referência diária de seu pensamento, seu espírito e seu talento.
A palavra solidária de Manuel António Pina fará muita falta.
_______________
Manuel António Pina:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2011/05/manuel-antonio-pina-premio-camoes-de.html
Manifestações dos leitores do JN:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=2838135&page=-1
Desde agosto último procurava e não encontrava suas crônicas no Jornal de Notícias. Pensei que estava em férias prolongadas ou algo assim, escrever para jornal dia após dia é negócio de doido, precisa dar um tempo às vezes. Mas não, a doença o afastava do trabalho.
Ficamos agora, seus inumeráveis leitores, sem a referência diária de seu pensamento, seu espírito e seu talento.
A palavra solidária de Manuel António Pina fará muita falta.
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Manuel António Pina:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2011/05/manuel-antonio-pina-premio-camoes-de.html
Manifestações dos leitores do JN:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=2838135&page=-1