domingo, 8 de setembro de 2013

O manuscrito de Borges

Jorge Adelar Finatto
 
fonte: AFP
 
A semana reservava uma boa notícia para os admiradores da obra de Jorge Luis Borges (1899-1986). Na quinta-feira (5/9), a Biblioteca Nacional da Argentina anunciou que foi encontrado um manuscrito do escritor argentino entre as páginas da revista literária Sur, edição de fevereiro de 1944, num exemplar que pertenceu ao autor. O achado ocorreu no depósito da hemeroteca da biblioteca.
 
Trata-se do último parágrafo que Borges acrescentou ao conto Tema do traidor e do herói (Tema del traidor y del héroe), que estava publicado na referida revista sem este trecho. O manuscrito de poucas linhas foi feito numa folha de papel timbrado da biblioteca. Pouco tempo depois, o conto foi publicado acrescido com este parágrafo no livro Ficções (Ficciones), editado em 1944.
 
A descoberta resulta do trabalho realizado pelo Programa de pesquisa e busca de registros borgeanos da Biblioteca Nacional, que rastreia livros que foram manuseados por Borges durante os anos em que foi diretor da instituição, entre 1955 e 1973. O mestre costumava fazer anotações nas margens das publicações. A procura também se estende a outros volumes que pertenceram a ele e que estão na biblioteca, como no caso deste exemplar da Sur encontrado no depósito.
 
O diretor cultural da BN, Ezequiel Grimson, destacou que este é o primeiro manuscrito importante de Borges sob a custódia do Estado argentino, uma vez que todos os outros foram vendidos para o exterior ou se encontram em poder de particulares. 
 
Já o diretor da biblioteca, Horacio González, informou que o manuscrito será oportunamente exibido ao público.

photo de Jorge Luis Borges.
fonte: Fundación Internacional Jorge Luis Borges
 
Para os devotos de Borges, entre os quais me incluo, é uma felicidade o achado deste vestígio do mestre. O que pode parecer pouco para alguns, para os iniciados na obra do escritor é um pequeno tesouro.

Lembro que, um ano após assumir o cargo de diretor da Biblioteca Nacional da Argentina (1955), por determinação médica, Borges não pôde mais ler nem escrever.

A nuvem da cegueira invadia sua existência. Uma ironia para quem passou a vida no meio dos livros e teve nas bibliotecas seu ambiente natural. O pai do escritor, Jorge Guillermo, ficara cego ainda mais jovem do que o filho, interrompendo uma sonhada carreira de escritor.

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Borges e a névoa do tempo:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2013/03/jorge-luis-borges-e-nevoa-do-tempo.html