Jorge Adelar Finatto
Por quem choras, Maria Filipa?
Quem mastigou teu coração e depois cuspiu no fundo das águas?
Estás ainda sentada à beira do canal, na tarde de outono, em Amsterdam?
Me olhaste com os olhos mais tristes do mundo. Passageiro efêmero no barco casual, numa cidade distante e povoada de ausência, eu nada fiz naquela hora.
Eu estava de passagem entre um cais e outro, um canal e outro, um deserto e outro.
Quem mastigou teu coração e depois cuspiu no fundo das águas?
Estás ainda sentada à beira do canal, na tarde de outono, em Amsterdam?
Me olhaste com os olhos mais tristes do mundo. Passageiro efêmero no barco casual, numa cidade distante e povoada de ausência, eu nada fiz naquela hora.
Eu estava de passagem entre um cais e outro, um canal e outro, um deserto e outro.
Devia talvez ter me jogado nas águas turvas na tarde de domingo. Nada era mais importante do que ir ao teu encontro.
Devia ter ficado o resto do dia contigo, em silêncio, ali naquele banco, sem nada esperar. Exceto talvez passar e receber um pouco de consolo.
photo: j.finatto. |
Devia ter ficado o resto do dia contigo, em silêncio, ali naquele banco, sem nada esperar. Exceto talvez passar e receber um pouco de consolo.
A cara de anjo, o capuz azul da solidão, os olhos mais tristes do mundo, me olhavas.
Da minha solidão eu te acenei.
Foi tudo que fiz dentro do barco. Por um instante tuas lágrimas diminuíram e teu olhar me seguiu. Depois tua cabeça caiu sobre o colo outra vez, onde as mãos pálidas repousavam.
O barco sumiu sob as pontes atravessadas pelos ventos de novembro. Eu dentro dele.
O barco sumiu sob as pontes atravessadas pelos ventos de novembro. Eu dentro dele.
Entre dois cais, entre dois nadas.
photo: j.finatto |
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Texto revisto, publicado antes em 16 de outubro, 2012.