Jorge Adelar Finatto
É difícil ser feliz numa cidade que trata o pedestre como inimigo. Inimigo de automóveis, motos, ônibus, caminhões e de tudo mais que anda e tem seres humanos na condução. Porto Alegre é uma das piores cidades do mundo para o caminhante. Não há respeito pela integridade física das pessoas. Por que, ó mistério, nos tratamos tão mal? Existem condutores que aceleram mais ainda os motores quando avistam alguém atravessando a rua. Idosos, crianças, adolescentes, pessoas com dificuldade de andar rápido são os mais expostos à violência, para não falar nos animais.
O excesso de velocidade e a direção perigosa colocam a vida em alto risco. Os motoristas dirigem agressivamente, no limite entre a culpa consciente e o crime doloso de trânsito. Não há desculpa pra isso. Depois de anos e anos de campanhas de esclarecimento e sensibilização, o que vemos é o triunfo da barbárie e da morte nas ruas e estradas. E dizer que um pouco mais de respeito, de gentileza e paciência fariam toda a diferença. Com boa vontade e cuidado, todos andariam mais e melhor. Os gestos de educação no trânsito, de tão raros entre nós, causam perplexidade. Os bons motoristas estão cada vez mais isolados. É comum serem agredidos com buzinaços, gritos furiosos e gestos obscenos toda vez que respeitam a travessia de alguém ou praticam um gesto de civilidade.
O que fazer? A cidade não tem mais pra onde crescer, o número de veículos aumenta, a distância entre eles diminui, o caminhante não tem como fugir. Se cada um praticasse uma boa ação no trânsito por dia, seria um começo. Nunca entendi por que motivo o aeromóvel, idealizado e construído por um engenheiro gaúcho, não é utilizado para melhorar o escoamento do transporte público. Além de andar em trilhos, no alto, sustentado sobre colunas, não atrapalha o tráfego nem produz poluição.
Em Paris tem cartazes espalhados nas ruas, dizendo que o fato de o pedestre cometer um erro no trânsito não autoriza o motorista atropelá-lo e matá-lo. Nada importa mais do que a vida. Na próxima segunda-feira, 1º de março, o trânsito volta à desumana rotina com o fim das férias. Deus nos proteja.
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Foto: J. Finatto. Começo do outono em Passo dos Ausentes.