terça-feira, 26 de abril de 2011

A palavra em silêncio

Jorge Adelar Finatto


Reescrever será, talvez, o vero escrever.

A palavra em silêncio é a palavra em estado de poema. É a expressão que busca, no cotidiano, a poesia existente nas coisas e nos seres.

O poeta não faz poesia, disse o poeta cruz-altense Heitor Saldanha. O poeta faz o poema, ensinou Heitor, sem nenhuma intenção professoral, do alto do seu gênio e da sua humildade.

A poesia existe em si, solta no mundo, enquanto o poema é a tentativa de colher esta revelação.

Nada grita como o poema, esta construção verbal, quase sussurro. O poema não é marketing pessoal, não quer vender nada. É como um rio vivo, correndo no fundo da memória e do tempo.

A palavra, irmã da vida, vida cheia de sofrimento, encanto, esperança, vida que quer ir além da miséria existencial, vida nossa de todos os dias, que tão pouco conhecemos.

O verso é a procura da comunicação, nasce em silêncio, abre caminho para a claridade. O poema reduzido ao rumor de sua incomparável verdade.

A expressão avessa ao ruído da conveniência e do agrado fácil, que só se afirma na medida do alvoroço interno da própria luz que produz.

A palavra lavrada a frio, na entranha quente da vida.

O ato de publicar em livro deve ser exceção no ofício do escritor. Uma parte significativa do que se publica não tem qualidade para ser impressa. O respeito ao leitor, e até mesmo às árvores que se derrubam para fazer livros, requer isso. Podemos ser exigentes naquilo que escrevemos.

Precisamos dar o nosso melhor, fazer o possível. É claro que sempre há uma insegurança quanto ao que, como e quando publicar. Mas em geral o bom texto emite sinais, se impõe como algo que poderá ser socializado através da publicação.

Reescrever será, talvez, o vero escrever.

Uma parada na estação-gaveta, por algum tempo, pode salvar um texto. Em literatura, prefiro o fazer pouco, mas fazer bem.

Publicar qualquer coisa, publicar por publicar, fazer carreira de poeta ou escritor, não é  e nunca foi o meu caminho. As coisas ruins que publiquei o fiz pensando que eram boas. A gente também se engana.

Ninguém deve se sentir acuado diante da palavra. Ninguém está obrigado a só escrever matéria excelente, isso só aumenta a angústia e desestimula. Não existe, de resto, a obra literária perfeita.

A alegria precisa ser nossa irmã na travessia da escrita.

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Foto: J. Finatto