quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A noite passada

Jorge Finatto
 
menino torcedor da Chapecoense. photo: Nelson Almeida/AFP
 
Passei parte da noite lendo poemas, ou pelo menos tentando. Ler poemas, numa hora de tantas crises e tragédias? - perguntará talvez o leitor. Sim, é uma maneira de sobreviver emocionalmente diante do sofrimento que assola o mundo e o Brasil.
 
Por aqui, regredimos a um estado tal de selvageria e velhacaria em alguns setores importantes da vida pública que fica difícil prever melhores dias no futuro próximo. Algo está muito errado em nosso modo de ser, de discernir e enfrentar os fatos. Com a realidade posta, estamos repetindo um passado de obscurantismo e negação do humano.

Estamos revivendo o que há de pior em nossa história: indiferença ao bem comum, individualismo doentio, indigência ética. Triste. Não é catastrofismo: é a duríssima conclusão diante do quadro de descaramento, irresponsabilidade, desmandos e criminalidade de colarinho branco. Só a consciência ativa dos cidadãos de bem e a Justiça podem nos valer.
 
Falta amor social no Brasil. Me refiro àquele afeto mínimo que deve existir entre as pessoas em sociedade, que começa com o respeito ao outro. Por isso certas figuras se sentem tão à vontade de agir como agem, à sombra, à socapa, na calada da noite, no reduto do inferno.

Existem pessoas honestas e preocupadas com o país na esfera pública. Elas não podem permitir que a turma do outro lado deixe o Brasil afundar mais do que já afundou.
 
Os colombianos deram uma demonstração extraordinária de solidariedade ao Brasil na noite de ontem. No Estádio Atanasio Girardot lotado, em Medellín, milhares de pessoas homenagearam as vítimas e abraçaram a dor dos familiares e amigos dos desaparecidos no terrível acidente com o avião que levava a Chapecoense. Era a hora em que deveria estar sendo realizada a primeira partida da final da Copa Sul-Americana entre Atlético Nacional e Chapecoense.
 
Aquelas pessoas pegaram a nossa dor como sua. Abriram os braços e o coração, sem qualquer intenção de marketing, de espetáculo ou de dar lição a quem quer que seja. Emocionante. Inesquecível. Inspirador.