sábado, 16 de junho de 2012

Uma viagem sentimental

Jorge Adelar Finatto



Possuo uma pequena coleção de discos de vinil. Estão comigo há muito tempo. Entre eles, alguns que considero preciosos: Homage to Erik Satie, Erik Satie, The Utah Symphony Orchestra, 1968; Urubu, Tom Jobim, 1976; Chet on poetry, Chet Baker, 1989.

Fazia mais ou menos vinte anos que esses discos estavam calados. Com a invenção do cd, o vinil quase virou peça de museu. Os toca-discos não foram mais fabricados e certos componentes, como agulhas, também não.

A simplicidade da nova tecnologia e as dificuldades de manter o antigo sistema de som levaram-no ao desuso. Acabei me desfazendo do antigo equipamento. Uma razão afetiva, porém, fez com que guardasse os discos. 

Agora, eles estão de volta. E a boa notícia é que estão fabricando outra vez os toca-discos. Os valores, por enquanto, ainda são elevados.

A saudade de escutar os velhos discos me levou a garimpar, até encontrar, um desses novos aparelhos a um preço razoável. Tem a forma de um gramofone, com a trompa que projeta o som no ar. Uma coisa bonita que permite ouvir os registros sonoros como foram concebidos.

Chet on poetry tem para mim um apelo especial. Me leva a reencontrar, como da primeira vez, a voz cálida, sofrida e quase sumida de Chet Baker e seu trompete, instrumento que com ele ganhou um novo significado.

Além de tocar e cantar de modo intimista, como alguém que nos conta um segredo, ouvimos Chet dizendo poemas, sim, belos e tocantes versos que nos levam a uma viagem sentimental por sua alma devastada e, ao mesmo tempo, povoada de delicadeza.