Jorge Adelar Finatto
As invisíveis presenças habitam o outono.
Estão nas fotografias, estão nos pensamentos, estão nas velhas cartas, estão nas cadeiras vazias ao redor do silêncio.
Estão nos livros que respiram sobre a mesa.
A bruma arrasta o branco vestido de tule pelas ruas esquecidas de Passo dos Ausentes.
Outono é um cartão postal que alguém mandou do oblívio.
O sol olha entre a névoa. O vento sopra nos cabelos, nos telhados oblíquos.
O tempo agora é viver cada dia.
As folhas caem em silêncio.
Estou habitado de vozes e ausências.
O pássaro tece o voo acima do vazio. O arrepio de estar vivo atravessa o coração. A palavra cresce sobre os territórios da sombra, como a luz de maio. Um sopro na escuridão.
A claridade depois se espalha.
Vamos com o lume que avança pela noite do mundo.
A face de dor esculpida no tempo.
Precisamos reinventar o amor.
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Fotos: J. Finatto