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sábado, 3 de junho de 2017

A solidão do fim do mundo

Jorge Finatto
 
Isla de lobos marinos. Tierra del Fuego. photo: jfinatto

Haverá solidão maior  que a do homem que cuida do farol nestas Ihas do Fim do Mundo? Haverá vida mais austera que a desse alguém cujo ofício é velar para que os navios não se estraçalhem nos rochedos traiçoeiros do mar tenebroso da Terra do Fogo, cemitério de navios e intrépidos marinheiros, sul absoluto, onde se encontram as águas congelantes do Atlântico e do Pacífico?
 
Julio Verne (1828 - 1905), no livro El Faro del Fin del Mundo, ambientado na Isla de Los Estados, a extremo leste da Tierra del Fuego, tem uma visão menos trágica do isolamento do homem do farol. O farol de que trata a obra é o de San Juan de Salvamento que funcionou na ilha entre 1884 e 1902.
 
Antes de mais, importa ressaltar o notável detalhamento que Verne faz da Isla de Los Estados (terreno, fauna, flora, clima) como se por lá tivesse passado alguma vez (nunca veio ao Fim do Mundo). Os requintes de imaginação, a capacidade narrativa e de pesquisa do escritor francês são superiores.

Mas voltemos, distante leitor, à solidão, tema recorrente destas páginas, na lonjura onde me encontro, em Ushuaia.

Julio Verne. Wikipédia
 
Diz-nos Julio Verne:
 
"(...) a monotonia que implica viver num farol nunca é perceptível, em regra, para os faroleiros. A maior parte deles são antigos marinheiros ou pescadores, e não se preocupam com os dias e as horas".¹

Talvez, talvez, digo eu. E o próprio Verne nos lembra:

- O Farol do Fim do Mundo! Sem dúvida que aquele nome se ajustava àquela ilha isolada de toda terra habitada e habitável.²

Olhando este mar escuro e revolto de inverno, sem qualquer amparo, onde só Deus pode valer a criatura humana em seu deserto, sou tentado a achar que a vida, neste território perdido, é um desafio que nos leva ao limite físico e psicológico. Mas a solidão também tem lá sua beleza e poesia.

Pero hay que tener ganas para soportar.

_________ 
 
¹-² El Faro del Fin del Mundo. Julio Verne. Agebe, 1ª ed. Buenos Aires, 2005. págs. 23, 9. Traducción: Ricardo Healy. Tradução livre dos trechos citados, do espanhol para o português, de J.Finatto.
 

domingo, 28 de maio de 2017

Postales del fin del mundo

Jorge Finatto
 
restos do Faro de San Juan de Salvamento. photo: jfinatto
 
ESSE título é o nome de um vinho argentino, da Bodega del Fin del Mundo, localizada na Patagônia. Não cheguei a beber o vinho ainda, mas o gosto já começa pelo nome. Palavras com sabor. 
 
Da fato, daqui da Tierra del Fuego mandam-se cartas e postais desde o fim do mundo para os afetos espalhados pelos quatro cantos do planeta. Em Ushuaia existem várias caixas coletoras do correio argentino em locais diversos. Ao menos aqui no fim do mundo, a correspondência de papel continua viva. Para a alegria de visitantes que vêm de todos os lugares e gostam de mandar postais.

caixa de correio. photo: jfinatto
Livraria

Na Boutique del Libro, uma boa livraria situada na Av. San Martín, confirmei o que acima foi dito. Vi sobre o balcão um envelope de carta aberto. Perguntei ao livreiro: aqui ainda se usa enviar e receber cartas? Ele respondeu sí, sí, por supuesto! E disse que era uma carta de uma leitora dos Estados Unidos que tinha gostado da librería.
 
Boutique del Livro, photo: jfinatto
 
Comprei livros de Rodolfo Walsh e Ricardo Rojas, dois importantes da literatura  argentina. E uma edição de El Faro del Fin de Mundo, de Julio Verne. Além da variedade de obras e autores, em diferentes idiomas, pode-se sentar, descansar um pouco e ler.

Julio Verne

Em seu livro O Farol do Fim do Mundo (1905), Julio Verne ambienta a história na Isla de Los Estados, situada na Terra do Fogo, porém a extremo leste, depois de atravessar o Estreito de Le Maire. Pois nesta ilha ficava o Faro de San Juan de Salvamento, que o escritor chama justamente de O Farol do Fim do Mundo, no qual se inspirou para escrever a obra.
 
Impressiona como o autor descreve o local em seu isolamento e desolação, quando se sabe que nunca esteve nesta região. Devia ter muito boas fontes entre os homens do mar. É ainda hoje lugar inóspito, reserva natural, com população de menos de 10 pessoas.
 
El faro foi instalado pela Marinha argentina para orientar os navios que se arriscavam a fazer a perigosa travessia do Atlântico ao Pacífico, sendo aquela região um enorme cemitério de navios. Funcionou de 1884 a 1902, quando foi substituído por outro, na Isla Observatorio, ao norte e próxima à dos Estados.

réplica do farol S.J. de Salvamento. photo: jfinatto
 
peça superior do velho farol. photo: jfinatto

Os restos do Faro de San Juan de Salvamento encontram-se guardados no Museu Marítimo de Ushuaia, na réplica dele ali construída, e valem a visita.
 
O Faro del Fin del Mundo, na entrada da Baía de Ushuaia, chama-se, na verdade, Les Éclaireurs, e não é o tratado no livro de Verne.
 
 Puco-puco

la gaviota Puco-puco. photo: jfinatto
 
La gaviota Puco-puco é uma amiga que conheci no porto de Ushuaia. Estava eu ali levando neve por cima e fotografando (tudo pela arte...). Quando ela sai do mar e vem parar bem na minha frente. Comecei a conversar com Puco-puco (este é o nome que revelou). Utilizei a voz que costumo usar nessas ocasiões. Um pouco ridícula mas funciona. Claro que Puco-puco entendeu tudo, pois me olhava e parecia compreender o que lhe dizia. Disse-lhe que era muito bonita e que estava feliz por tê-la como amiga antártica.