Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto. Sierra Nevada, Espanha |
A viagem de trem de Sevilha a Granada dura cerca de três horas. Quando nos aproximamos da cidade, surge na janela a visão de Sierra Nevada, um quadro maravilhoso.
Viajar de trem é uma das belezas desta vida. No tempo de menino, lembro dos percursos entre Porto Alegre e Caxias do Sul. O trem subia a serra lentamente, à beira de córregos e pinheirais, contornando abismos. Havia aqui e ali uma cascata se derramando na encosta de uma montanha.
(Infelizmente, o transporte ferroviário foi extinto em nosso país a partir da década de 1950, com a implantação da indústria automobilística e a expansão de setores da economia ligados ao transporte rodoviário. Um erro colossal. Um país com as dimensões do Brasil sem uma rede de trens de passageiros e de cargas é algo inconcebível. O pouco que existe é absolutamente insuficiente. Por conta disso, estradas saturadas e mal conservadas levam a milhares de mortos todos os anos em virtude de acidentes, sem falar nas pessoas que ficam com sérias sequelas físicas. Embora com atraso, o governo federal retoma (dizem) o investimento nos caminhos de ferro.)
Casa-Museu Federico García Lorca
photo do poeta: Fundación Federico García Lorca |
A noite tornou-se íntima
como uma pequena praça.
(Romance Sonâmbulo)
Volto à Espanha. Ao chegar à Granada, a atenciosa taxista informou-me onde se situa a casa em que Federico García Lorca (1898-1936), uma das minhas devoções literárias, viveu por largos períodos de sua vida. Instalei-me o mais rápido que pude no hotel e fui a pé em direção ao parque que leva o nome do poeta, no qual se situa a Casa-Museu Federico García Lorca. A bela propriedade conserva o nome original, Huerta de San Vicente (homenagem à mãe do escritor, Vicenta). A área do Parque García Lorca é formada por terrenos que pertenceram à família do poeta.
Huerta de San Vicente acolheu muitas reuniões e saraus frequentados por artistas e intelectuais. Os dois pavimentos abrigam diversos móveis daquela época, além de quadros e outras obras de arte. Há também manuscritos de Lorca em exposição. Nas paredes, quadros de pintores como Salvador Dali (amigo do poeta), entre outros.
Na sala do piano, apresentaram-se músicos como o próprio Federico (tocava violão e piano) e o também espanhol Manuel de Falla (1876 - 1946), grande compositor, amigo do escritor que tentou em vão impedir seu assassinato.
O quarto do poeta, no qual escreveu parte significativa de seus textos, no pavimento superior, ainda conserva sua escrivaninha e objetos pessoais.
Não é permitido fotografar no interior da casa-museu, que pertence ao município desde 1985. A visita é guiada. O preço varia entre 3 euros (mais ou menos 9 reais) para adultos e 1 euro, havendo também ingressos gratuitos para estudantes e nas quartas-feiras.
Numa sala anexa à casa, há exposição e venda de livros e de objetos relacionados ao poeta andaluz.
Um lugar acolhedor com pátio florido, árvores e bancos para sentar. Bom para ler, respirar e pensar, em meio à fragrância do roseiral que cerca a casa. Um lugar que faz lembrar a força terrível, desumana e avassaladora do fascismo que ceifou, sem qualquer razão além do ódio injustificado, a vida de Lorca.
Neste lugar de memória, história e arte, parece que a qualquer momento vamos escutar a risada do poeta, sua fala e seu violão gitano.
Alguém, em Granada, perguntou o que, afinal, me levou àquela cidade. Ora, respondi, vim para visitar o poeta Federico em sua amada casa. E para ler seus poemas neste jardim de silêncio.
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Leia mais sobre Federico García Lorca:
A memória em busca do poeta:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com/2011/08/federico-garcia-lorca-memoria-em-busca.html
Zambra para Federico:
Zambra para Federico:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com/2011/11/com-lorca-pela-andaluzia.html
Site oficial da Casa-Museo FGL:
http://www.huertadesanvicente.com/index.php
Site oficial da Casa-Museo FGL:
http://www.huertadesanvicente.com/index.php
Texto publicado originalmente em 12 de janeiro, 2012.