segunda-feira, 20 de maio de 2013

Racismo à brasileira

Jorge Adelar Finatto 
 
Chico Buarque
 
Nós não somos brancos. O nosso valor é a miscigenação. 
Chico Buarque de Holanda
 
Um dos mitos da civilização brasileira é o da democracia racial. Embora a miscigenação faça parte da nossa formação, a igualdade de tratamento está longe de ser uma realidade, ainda que formalmente assegurada no ordenamento jurídico.

Chico Buarque de Holanda revelou que a família de sua filha (casada com o músico negro Carlinhos Brown, com o qual tem filhos, netos de Chico) foi alvo de discriminação no condomínio onde tinham apartamento, no Rio de Janeiro. Por essa razão, saíram de lá. Em lúcido depoimento, Chico Buarque falou sobre o problema do racismo no Brasil (o vídeo está no youtube).

O preconceito de cor é tratado por muitos como algo inexistente ou vago. Mas a negação não resiste às evidências. Se os netos do grande Chico Buarque enfrentam esse problema, o que dizer dos outros milhões e milhões de brasileiros de ascendência africana espalhados por este país-continente? 
 
Há um "defeito de cor" que impregna as relações sociais no Brasil.

Para além da hipocrisia, o fato é que a pele negra ainda é discriminada. Existem avanços em função das lutas por igualdade, mas o caminho é difícil. 

A ironia nessa história é que somos um país essencialmente mestiço. Os racistas brasileiros não têm espelho em casa. E se têm não enxergam a própria imagem. Somos uma mistura de sangue negro, índio e de tantos outros sangues que por aqui chegaram a partir do século XVI.

Dificilmente haverá família, no Brasil, que não tenha origem na miscigenação. Os racistas daqui são ridículos e delirantes na sua fabulação arianista. Não sabem, muitos por ignorância e outros por má consciência, que desprezam o que há de melhor em si mesmos, ao negar a sua/nossa natureza misturada.
    
Como o preconceito não passa recibo (até porque racismo é crime no Brasil), ele é na maior parte das vezes dissimulado, escamoteado, esconde-se nas reticências, nas evasivas, nas entrelinhas, no cinismo, na rejeição tácita, no silêncio cúmplice.
 
A "raça" humana é uma só. As diferenças físicas, culturais, religiosas, etc., fazem parte da unidade universal que é o ser humano. Já é tempo de reverem-se conceitos ditos científicos a respeito de "raças". As diferenças tendem a mitigar-se com a união cada vez maior entre pessoas de origens diversas.

Prefiro falar, ao invés de raça, em origens étnicas, que compreendem caracteres físicos e culturais.
 
O Brasil ainda será uma democracia racial. Acredito que a maioria da nossa população anseia por isso. O cerco cada vez maior à hipocrisia com ações afirmativas - como a das cotas nas universidades para afrodescendentes e índios - nos dá essa esperança.
 
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Uma decisão para reescrever o Brasil:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/04/uma-decisao-para-reescrever-o-brasil.html
O escravo e sinhá:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/03/o-escravo-e-sinha.html
O crédito da foto será dado assim que conhecido o autor.