terça-feira, 27 de agosto de 2013

O tecido da neve

Jorge Adelar Finatto
 
De manhã, a paisagem ficou assim.
  
photo: j.finatto. 27.8.2013

 
photo: j.finatto.

 
photo: j.finatto


photo: j.finatto. Eta vida difícil.


photo: j.finatto


photo: j.finatto

 

Notícias da neve

Jorge Adelar Finatto
 
photos: j.finatto. Neve em Canela. 27/8/2013
 
Caminhar pelo jardim é uma maneira de andar dentro de si mesmo por veredas interiores. Foi o que fiz há poucas horas atrás, em busca da companhia suave das plantas e do aroma dos jasmins de inverno.

O que encontrei foi a neve caindo, caindo, em silêncio em volta da casa. Peguei a Coruja e fiz essas imagens. Depois tudo ficou muito mais branco e fofo, mas aí eu já estava em casa, fugindo do frio de -2º C. 
 
Bem-vinda sejas, neve de quase setembro!
 
 
photo: j.finatto. 27/8/2013
 


photo: j.finatto. 27/8/2013
 


photo: j.finatto. 27/8/2013
 


photo: j.finatto. 27/8/2013
 

A fala de Pedrolino

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto. Venezia. Os mascarados


Pertenço à ordem dos amorosos sem camélia.

Os que amaram e se pensaram amados sem o ser. Os que saíram cedo da festa. Os quase.
 
A dama. Meu coração perdido no infinito tabuleiro. O mundo é lugar de barbaridades. Dor, dores.
 
Chamava-se Alberta, Alberta de Montecalvino. Pertencia à nobre estirpe dos Albertos, de Passo dos Ausentes. Foi quando a vida aconteceu.
 
O sol brilhou entre as nuvens. Iluminou a escuridão da vida minha. O triste que eu sou.

A Commedia dell'Arte invadiu a minha existência. Pedrolino, Pierrô.
 
Estava na janela da mansarda, como sempre, olhando a vida passar.

Então ela atravessou a rua. Trazia a sombrinha vermelha, o vestido branco, laço azul na cintura. Os sapatinhos amarelos. Olhou pra mim e sorriu. Rasgou minha solidão.
 
Bailei no ar como folha de plátano no outono, lentamente fui cair a seus pés. Desci correndo, pulando os degraus da escada em espiral. Segui o inefável perfume. Enfim, alcancei a dama.
 
Perguntei se podia fazê-la feliz. Sim, sim. 

photo: j.finatto. Venezia
As iluminações.

Passamos a freqüentar a Praça da Ausência, nas tardes ocres daquele outono. Um dia peguei-lhe na mão. Meu coração cavalo louco. Não dormi durante três noites.
 
Alberta meu sentimento. Camafeu cravado na minhalma. Ela me deu o lencinho branco perfumado, a letra A bordada em lilás. Guardei-o num lugar secreto, bem no fundo de mim.
 
Aqueles eram dias de ora-veja.
 
A dama, o tabuleiro, eu nunca aprendi a jogar.

Não canto outros amores, que não os tive, e, se os tivesse, silenciaria.
 
Então Arlequim apareceu. Os ódios pularam dentro de mim.

Arlequim e seus guizos, seus versos de algibeira, sua palavra sem valia, seu alaúde. Ser miserável.
 
Arlequim disse coisas, deitou falas, expandiu-se em canções. Antes calasse.

Bazófias.
 
Arlequim se espalha no mundo. Faz ares. Blasona. Explorador de amores, ladrão de musas. Arrebatou o coração de Alberta, os suspiros, até o corpo de violino que eu nunca toquei.
 
Eu calado sonhador do fim do mundo. Os devaneios da alma. Voltei só pra mansarda. Nem acreditei.
 
Quem me visse, a face esculpida da dor. Veio o inverno. Invernos.
 
O vero solitário da rua triste. O que olha a vida da janela. O que foi quase feliz.
 
O sem camélia.
 
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Texto publicado em 09 de junho, 2010.
Do livro Calado sonhador do fim do mundo. Editora Vésper, 2010, Passo dos Ausentes.
Outros detalhes do drama de Pedrolino em A fala do Arlequim, post de 30/10/10, e Alberta de Montecalvino, de 8/11/10.