Jorge Finatto
photo: jfinatto |
Ninguém jamais viu a Deus. Se continuamos a amar uns aos outros, Deus
permanece em nós e o seu amor é aperfeiçoado em nós. 1 João 4:12
Penso
em Deus várias vezes ao dia. Não tenho ideia de sua aparência, de seu tamanho,
de seu endereço. Uma vez que teceu o infinito, sei que ele é infinitamente maior
que todo o universo. Às vezes me pergunto se ele realmente existe ou é apenas
um sonho que sonhamos na nossa imensurável solidão. Pergunto, também, se ele me
enxerga: um grão de poeira na Via Láctea: ser insignificante, habitante de uma
placenta cheia de estrelas e inumeráveis corpos celestes. Haverá outros seres
como nós?
Gente sábia
pensou e pensa sobre Deus em todas as épocas. Todo ser humano pensa em Deus.
Porque é impossível não pensá-lo. E como não fazê-lo diante de tanto encantamento,
tanto sofrimento, tantas interrogações, tanta beleza? Certa vez indagaram ao
filósofo, psicanalista, erudito e escritor Carl Gustav Jung sobre sua ideia a
respeito de Deus. Ele respondeu: eu sei.
O que
Jung quis dizer? Creio que pretendeu afirmar que sua experiência com o ser
divino era semelhante à de todos nós, pessoas comuns. Nossa experiência acerca
de Deus vem de longe, atravessando gerações e gerações, de pessoa em pessoa, de
alma em alma, de aldeia em aldeia. Deus é um ser incontornável, que floresce em
todas as mentes e corações. É uma realidade que se impõe, acreditemos nele ou
não. É inevitável como respirar. Deus está em nossas células. Nós
"sabemos" Deus porque não existe possibilidade de ignorá-lo. Está
impregnado na nossa essência, em nosso antes e nosso depois.
Vivemos
cercados de Deus por todos os lados.
A
ninguém é dado não ter conhecimento dele, deixar pra lá. Crendo ou não, a
presença dele se impõe. Entre crentes e ateus. Não conhecemos sua face,
ignoramos sua morada, nunca ouvimos sua voz, desconhecemos sua origem e suas
canções preferidas. Mas de alguma forma "sabemos" Deus.
A
condição humana é inescapável. Nela está ínsita a figura luminosa de Deus. Não
temos como nos livrar dele. Não temos para onde correr. Deus é inexplicável e
é, sobretudo, inevitável. É impossível resumir Deus numa frase. Nenhum conceito
o aprisiona. Nenhuma definição o limita.
Quem
recolhe a tempestade no leito de um lenço?
Filósofos,
livres-pensadores, cientistas e escritores têm ocupado parte de seus talentos e
esforços esquadrinhando a existência divina. Alguns encaminham-se pela negação,
mostrando-se revoltados com o que consideram barbáries em certos relatos
bíblicos. Outros, por infensos à Igreja Católica, desconsideram Deus
(como se fosse propriedade e criação dela).
De
tanto ocuparem-se de um Deus cuja existência tentam negar - sem consegui-lo – deixam
uma fresta aberta para a possibilidade oposta. É razoável concluir que mentes
privilegiadas não perderiam anos de vida com algo que simplesmente inexiste.
A
própria preocupação em torno do tema demonstra que "algo" é,
"algo" há que escapa da compreensão e não se deixa dominar pelo conhecimento
racional humano.
Deus é um mistério e um sentimento que nos habita desde a remota escuridão de onde viemos. Resta claro que é preciso mais do que a razão para nos aproximarmos dele. A fé faz parte desse caminho. Talvez um dia acenda-se em nosso coração a luz que nos revelará o que tanto ansiamos saber.