Jorge Adelar Finatto
Desde o século passado, eu mesmo cuido dos meus sapatos.
Limpo, escovo, guardo. Ontem, num shopping de Porto Alegre, quebrei essa rotina. Dois jovens, um rapaz e uma moça, com cerca de vinte e cinco anos cada um, trabalhavam engraxando e dando brilho nos calçados. Sentei-me numa das cadeiras. Perguntei se havia outros trabalhando ali com eles. Me disseram que sim, duas mulheres e três homens revezavam-se durante os turnos. Indaguei ainda se estudavam. Resposta: sim, eram universitários.
A jovem que me atendeu era estudante de engenharia. O colega ao lado dela estudava computação. Eu fiquei impressionado com o exemplo deles. Estão ralando, trabalhando duro. Têm projetos de vida, lutam todos os dias para alcançar seus objetivos e, pelo que percebi, nada os deterá.
Eu também trabalhei em ofícios humildes, aprendi muito e me orgulho disso. Sei que todo trabalho humano é socialmente importante e digno do maior respeito. Tem quem prefira roubar os outros. Fazem qualquer negócio para alcançar dinheiro e poder.
Aqueles jovens do shopping reforçam minha crença de que existe um outro Brasil, o das pessoas honestas, que acreditam no bem e numa vida melhor através do estudo e do trabalho. Gente que não aparece todo dia no noticiário, mas que está aí, viva, firme, fazendo o moinho do país girar.
Não duvido do poder da maldade. Mas acredito, acima de tudo, na força invencível da dignidade, da esperança ativa que constrói o amanhecer.