Jorge Adelar Finatto
Barrio de negros, 1924. Museo Figari, photo: jfinatto |
Minha pintura não é 'uma maneira de fazer pintura' senão um modo de ver, de pensar, de sentir e sugerir.
Pedro Figari
Pedro Figari |
Uma das visitas mais proveitosas que fiz, nesta viagem ao Uruguai, foi ao Museu Figari, em Montevideo. Já admirava sua obra pelo que havia visto antes, em viagens anteriores, no Museo Nacional de Artes Visuales e no Museo Juan Manuel Blanes.
Não pretendo, evidentemente, neste breve espaço, aprofundar nenhum assunto relacionado a Pedro Figari (1861-1938), senão dar uma ideia resumida e muito pessoal do que vi e senti. Entre outras razões, porque estou começando a conhecê-lo. Se da visão anterior já tinha ficado com uma forte impressão de sua obra, agora ela se enriqueceu e ampliou.
Fantasia, Museo Figari, 1922-23, photo: jfinatto |
A produção abundante (cerca de 4 mil obras) e altamente qualificada do artista justifica a existência do museu. Figari foi, para além de artista plástico, jurista, escritor, filósofo, político, colaborador em periódicos, polemista e trabalhador em causas de interesse público, entre outros misteres. Um humanista que atuou na construção de um pensamento (e de um sentimento) em torno da arte e do fazer humano em geral.
Como diretor da Escola Nacional de Artes e Ofícios, desenvolveu a ideia de que o trabalhador pode e deve fazer de seu ofício uma arte, atuando com pensamento crítico, esmero e criatividade. Valorizou o trabalho em suas muitas expressões. A arte, para ele, era mais um dos fazeres ao alcance do indivíduo e poderia ser exercida de diferentes maneiras e em diferentes atividades.
Museo Figari. photo: jfinatto |
Ao que interessa, nesta breve notícia, cumpre ressaltar o traço e as cores absolutamente singulares de suas pinturas. A composição lírica e delicada das tintas dá às pinturas uma vida única, particular.
Uma tal originalidade possui a obra figariana que nos assoma a impressão de que nada parecido foi feito antes e nem depois. Desenvolveu um modo de pintar e de elaborar a linguagem pictórica que é inaugural. E ali colocou seu sentimento e sua visão de mundo.
Há um jeito Pedro Figari de construção plástica. Não conheço nada parecido. Deve-se, claro, ter presente que não sou especialista na matéria, nem pretendo sê-lo. Mas também não sou um observador leviano.
Uma tal originalidade possui a obra figariana que nos assoma a impressão de que nada parecido foi feito antes e nem depois. Desenvolveu um modo de pintar e de elaborar a linguagem pictórica que é inaugural. E ali colocou seu sentimento e sua visão de mundo.
En la estancia, 1925. Museo Figari, photo: jfinatto |
Há um jeito Pedro Figari de construção plástica. Não conheço nada parecido. Deve-se, claro, ter presente que não sou especialista na matéria, nem pretendo sê-lo. Mas também não sou um observador leviano.
A temática está muito ligada à terra uruguaia, sua gente, sua história, mas nela bate um coração universal. Há cenas campestres, familiares, bailes, situações de sofrimento e depressão, painéis da vida social, fantasias, etc.
Não há projeção minudente do figurativo. O artista quer mais sugerir sentimentos e ideias do que descrevê-los. As pessoas, animais e coisas são desenhados com traços sinuosos, em movimento físico e/ou emocional. Não existe preocupação excessiva com detalhes. Os olhos e rostos, por exemplo, não ganham maior destaque. Ainda assim, a composição como um todo resulta rara. Ali sempre há um sentido, nada está perdido ou solto ao acaso.
Algo que chama a atenção é a importância que dá à presença de afrodescendentes. Eles aparecem tanto como serviçais quanto vivendo sua própria vida no bairro, em suas festas e reuniões.
Há um louvável interesse de Figari pela situação destas pessoas na paisagem humana da época, cujos ancestrais vieram da África em condição de escravidão.
Não sei como será no interior do país, mas em Montevideo vejo muito baixa presença de pessoas negras atualmente. Acostumado ao Brasil, onde ela é muito significativa, aqui mostra-se reduzida, ao menos foi o que apreendi nas cinco vezes em que estive no Uruguai.
Algo que chama a atenção é a importância que dá à presença de afrodescendentes. Eles aparecem tanto como serviçais quanto vivendo sua própria vida no bairro, em suas festas e reuniões.
Há um louvável interesse de Figari pela situação destas pessoas na paisagem humana da época, cujos ancestrais vieram da África em condição de escravidão.
Não sei como será no interior do país, mas em Montevideo vejo muito baixa presença de pessoas negras atualmente. Acostumado ao Brasil, onde ela é muito significativa, aqui mostra-se reduzida, ao menos foi o que apreendi nas cinco vezes em que estive no Uruguai.
Miseria, sem data. Museo Figari, photo: jfinatto |
Um quadro de Figari é facilmente identificável por sua força expressiva e peculiar elaboração. De muitas formas ele me encanta como um dos grandes pintores que tenho conhecido em exposições e museus.
Penso que já é mais do que hora de levar uma exposição de Pedro Figari ao Brasil. É, sem dúvida, um dos expoentes do continente americano. Conhecer seu pensamento e sua obra é fonte de inspiração e crescimento.
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Museo Figari. Calle Juan Carlos Gómez, 1427, Ciudad Vieja, Montevideo, Uruguay.