O que fazer numa tarde como essa? Azul e fresca, presente transparente do outono. A pergunta pode soar insolente a milhões de homens e mulheres que, em todo o mundo, a esta hora, estão trancados em obscuros ambientes de trabalho.
Vivemos em prisões boa parte da vida. Quando percebemos, passaram-se 30 anos sem nenhuma tarde livre de outono, sem sonhos realizados, sem perspectiva de algo melhor. A vida se resume a ganhar o pão honestamente, ser útil cidadão de bem, o que já não é pouco, mas não é tudo.
As nossas coisas interiores podem esperar, e sempre esperam. Até que um dia o coração amanhece frio. Não reconhecemos aquele rosto no fundo do espelho.
Vivemos em prisões boa parte da vida. Quando percebemos, passaram-se 30 anos sem nenhuma tarde livre de outono, sem sonhos realizados, sem perspectiva de algo melhor. A vida se resume a ganhar o pão honestamente, ser útil cidadão de bem, o que já não é pouco, mas não é tudo.
As nossas coisas interiores podem esperar, e sempre esperam. Até que um dia o coração amanhece frio. Não reconhecemos aquele rosto no fundo do espelho.
Por isso é bom ter um plano de fuga para executar numa tarde assim. Fugir pelo bordado amarelo do sol no espaço anilado.
Por um momento, esqueço o mundo diante da visão consoladora dos barcos, dos pássaros e do rio.
Fique então registrado, nos alfarrábios da eternidade, que, nesse dia de abril, no sul longínquo do Brasil, um homem parou o tempo para caminhar na beira do Guaíba, sob a concha do céu, e se sentiu vivo. Assim seja.
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Foto: J. Finatto