Jorge Finatto
do meu jardim. photo: jfinatto |
Uma das alegrias da minha infância eram os brinquedos caseiros. Brinquedos rústicos de criança pobre, feitos com materiais descartados. Não obstante humildes, nos levavam a viajar pelo cosmos, expandindo nosso universo.
O porão da velha casa de madeira, lá na Serra, não abrigava somente quinquilharias. Era uma oficina de brinquedos. O artesão desse mundo mágico, que transformava latas de azeite em belos carrinhos e caminhões, era o primo Nego (Rogério). Eu era auxiliar de feiticeiro.
De suas mãos saíam também carrinhos de lomba com rodas de rolimã (rolamentos de aço), cavalinhos, balanços pra pendurar no plátano à beira do Arroio Tega, arcos e flechas, pernas de pau, trenzinhos, espadas, escudos, revólveres, espingardas, bonecos, aviões. Tudo trabalhado com serrote, martelo, lima, formão, goiva, torno, lixa e pedaços de madeira que buscávamos na madeireira perto de casa.
Os brinquedos dos outros meninos e meninas da rua também eram caseiros, mas não se comparavam aos nossos (na nossa imodesta opinião).
Devia haver uma espécie de museu para esses brinquedos de antigamente. Cheios de imaginação e criatividade, povoavam de fantasia nossas brincadeiras e nos levavam além do mundo em preto e branco.